A Mensagem Através da Estética sobre Ouça-a com seus Olhos, dirigido por Ting Chi-Wen
Por Thiago Barboza
Uma viagem atribulada entre Rio e São Paulo me trouxe a oportunidade de viajar para bem mais longe em menos tempo. Ouça-a com seus Olhos faz parte da mostra de curtas Taiwan – A Geração Pós-90, com o intuito mostrar a visão e os anseios desses novos realizadores pós-década de 90.
É importante entender a razão deste “Pós-90” ser destaque para a mostra de Taiwan. Durante a última década do século 20, a província testemunhou um movimento cinematográfico conhecido como a “Nouvelle Vague de Taiwan”. Este movimento se utiliza do termo em francês que significa “Nova Onda”, em referência ao cinema francês da década de 60.
A Nouvelle Vague original e a de Taiwan possuem similaridades, principalmente na proposta de alterar a forma de se pensar o cinema produzido na região, trazendo identidade própria ao movimento. A realização taiwanesa foi fundamental para expressar as características e identidades de seus realizadores e da região, buscando fugir da hegemonia de um cinema chinês mais tradicional. Ele influenciou não só os filmes da época, como também alguns mais atuais.
Um dos filmes apresentados é Ouça-a com seus Olhos. A produção de 2023, dirigida por Ting Chi-Wen, bebe da fonte de seus antecessores, como Tsai Ming-Liang e Hou Hsiao-Hsien. Mesmo com pontos em comum como as tomadas longas e grande uso de cenas externas, a produção ainda assim traz atualidade em sua linguagem. Destaca-se a edição do curta, muitas vezes acelerada na pós-produção, com o intuito de traçar um paralelo entre a velocidade da sociedade contemporânea e a necessidade de debater o ponto principal do filme: em sua trama, acompanhamos um grupo de mulheres que buscam lidar com uma questão, infelizmente, cada vez mais comum em nossa sociedade: o assédio.
Tanto a Nouvelle Vague de Taiwan como o movimento pós-90 tem em seu âmago a crítica social, mudando apenas as formas de abordagem. A abordagem do curta vem de seu roteiro, com humor ácido e diálogos que parecem sair do dia-a-dia, assim adicionando um tom pertinente ao curta. Ainda que o roteiro dê momentos de humor para as personagens, o tom sério da abordagem temática não desvia o filme do acerto.
A obra também utiliza de uma linguagem visual híbrida, com planos bastante longos e abertos. Seja em cenários fechados como um escritório ou um parque, a escolha desses planos mais duradouros faz com que o espectador se sinta parte da história, quase como um observador dentro de cena. Com a câmera estática, o filme às vezes evoca a linguagem do teatro em sua direção de atores e reforça o papel de quem assiste como observador.
Na equação dessas ferramentas, o resultado é convidativo. O espectador é convidado a fazer parte da realidade taiwanesa, imerso entre paisagens vibrantes, diálogos frenéticos e questões contemporâneas.
Ouça-a com seus Olhos já nos traz a dica em seu título. À medida em que vamos desvendando suas escolhas criativas, o curta se torna uma reflexão pertinente sobre um tema universal, utilizando do cenário e da realidade da sociedade taiwanesa. Um recorte geográfico específico, mas que reverbera para todos que têm a sorte de assistir a este olhar, através da lupa de Ting Chi-Wen.
Biografia: Thiago Barboza, carioca de 29 anos, é estudante de cinema. Desde os meus quinze anos escrevo sobre filmes, e de um tempo para cá tomei a decisão de tornar meu hobby em algo mais sério. Entusiasta do cinema oriental com foco na China e Taiwan, este apaixonado por gostar de filmes tenta instigar seu leitor a enxergar o lado positivo do cinema.