A GIS

Um registro sensível

Um dos destaques da Mostra Brasil 5, “A Gis” é antes de mais nada um documentário de valor contundente por conta da denúncia da situação de intolerância em que vivem as pessoas transgêneras, tanto no Brasil quanto em Portugal, e também pela importância do registro e da memória de um crime de ódio, um caso de transfobia que infelizmente ainda espelha tantos outros.

É muito difícil ver esse filme e não lembrar de Dandara, mais uma mulher transexual brutalmente assassinada, em março deste ano, no Ceará, novamente num caso com menores de idade diretamente envolvidos no crime, em tortura que levou à morte. Parte da ação que vitimou Dandara foi filmada e compartilhada por milhares de pessoas. E o vídeo reacendeu o debate sobre transfobia no Brasil.

Gisberta foi morta em 2006, depois de ser torturada por um grupo de 14 adolescentes. A forma como o diretor Thiago Carvalhaes nos conduz a esse fato hediondo é uma dolorosa experiência. Mas, muito além da memória do crime, temos aqui a reconstrução da pessoa pela memória dos outros e pelas pistas que ela deixou em sua passagem, seus poucos objetos, suas fotos, sua letra nas correspondências com a familia.

O que sobra de nós quando somos limados pela sociedade?

Por matérias de jornal, vamos rememorando esse crime brutal que se tornou um importante marco da luta pelos direitos LGBTs em Portugal, mas aqui no Brasil, terra natal de Gis, sua história ainda é pouco conhecida.

O atestado de óbito de Gis, o resgate de seu corpo, o diagnóstico de quando ela procurou assistência, os pontos de virada em sua vida, a relação com a família, sua trajetória. O filme faz um retrato sensível de Gisberta, vai nos aproximando gradualmente dela, guardando seu clímax quando enfim nos apresenta a imagem de Gis. Da morte pra vida, transcendendo numa bela canção.

(Ande Romano)

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