A imagem sempre permanece

O desejo de manter um retrato das pessoas para a eternidade sempre esteve presente na história humana. Antes da fotografia, inúmeros retratos eram feitos de monarcas e pessoas ricas. Mas, por mais que tentassem simular a realidade, não conseguiam atingir a perfeição. Não conseguiam capturar aquilo que é tão caro à fotografia, a impressão da realidade na película. Desde os tempos antigos, para eternizar os rostos dos governantes e das pesonalidades da época, faziam-se máscaras mortuárias, que eram transformadas em bustos. Como o famoso busto em ouro de Tutancâmon, o faraó egípcio. Máscaras morturárias serviam então para eternizar algo perene, através de uma imagem.

Hoje não precisamos mais delas. Fotos, filmes e vídeos estão presentes o tempo todo como testemunhas passivas da história. Mas não seriam todas essas imagens, produzidas em exaustão diariamente, um desejo de eternizar algo perene? Assim como as máscaras mortuárias? Chego a esse questionamento após assistir a “Corpo Presente”, de Marcelo Pedroso. Outro diretor da ótima safra de Pernambuco, que provoca e instiga o espectador com seu filme. O curta não tem texto; a ficção é contada apenas por meio das imagens. E possibilita inúmeras interpretações.

Claro que sua narrativa, mesmo não convencional, é, sim, muito intencional. E provoca o espectador a refletir sobre a a avalanche de imagens produzidas hoje. Algo que nasceu do desejo de eternizar aquilo que é precível, ou contar histórias de grandes feitos, elas nunca estiveram tão presentes em nossas vidas. Esquecemos, muitas vezes, que até esse texto nos é exibido como imagem, na tela do computador.

Não cabe fazer aqui uma interpretação do filme de Marcelo Pedroso, nem de tentar achar significados ocultos em sua narrativa. O que mais me instigou em “Corpo Presente” é o fato de que a imagem sempre vai sobreviver, mesmo quando nos tornarmos cinzas. Mesmo quando o corpo “molde” perecer. O fato de o corpo do morto ser representado como uma escultura de gesso quando é preparado para o sepultamento me faz pensar que talvez nós existimos apenas para aqueles que nos conhecem. Para as outras pessoas, somos uma imagem desconhecida em meio ao turbilhão de imagens em que vivemos. (Renato Batata)

“Corpo Presente” está na Mostra Brasil 8.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *