A influência do olhar jornalístico na direção

“Ovos de Dinossauro na Sala de Estar”, do curitibano Rafael Urban, é o exemplo ideal para estudantes de comunicação e artes de como se pode utilizar a história de uma figura quase desconhecida do público geral e transformá-la em um excelente e curioso filme.

Quando jornalista da “Folha de Londrina”, Rafael trabalhava especialmente em matérias excêntricas, fora da normalidade dos assuntos cotidianos, como o marketing usado pelas funerárias para conseguir clientes. Em 2009, em busca de uma nova pauta, ficou sabendo de uma senhora que guardava pelos de mamutes em sua própria residência. Ela seria Ragnhild Borgomanero, dona da maior coleção particular de fósseis da América Latina e viúva de Guido Borgomanero, ex-cônsul geral da Itália no Paraná entre 1974 e 1984, que morreu em 2005, aos 83 anos.

Por trás da imensa coleção inusitada e de uma casa que mais parece um cenário cinematográfico, Rafael descobriu uma grande personagem para seu documentário. A paixão por Guido fez com que Ragnhild largasse a carreira como nutricionista clínica para acompanhar o marido em viagens pelo mundo inteiro, aumentando sua querida coleção. Aliás, o ninho fossilizado de ovos de dinossauro, que dá título ao filme, é justamente o último objeto adquirido pelo casal.

Quase todos os planos do documentário colocam Ragnhild em meio à sua coleção. Ao receber os espectadores em sua casa e apresentá-los aos seus cômodos, Ragnhild também abre sua intimidade com Guido, mostrando suas cartas de amor, dividindo suas fotos de viagem. Tudo por meio de um texto que o próprio Rafael preparou para ela ensaiar, decorar e encenar perante a câmera.

“Um dos desafios foi preparar um texto oral, diferente do texto impresso do jornal, para ser usado no filme”, disse o diretor. Durante o debate após a exibição do curta, Rafael também apontou suas influências como cineasta. “Tenho inspiração nos documentaristas contemporâneos e também na ficção de Pedro Costa.”

Procurar e encontrar uma pessoa com uma boa conversa é relativamente fácil; difícil é ganhar o interesse dos espectadores para ela. E isso, Rafael conseguiu com êxito em apenas 12 minutos. (Letícia Mendes)

“Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” está na Mostra Brasil 3.

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