CAMINHO DE SEMPRE

“Pode parar fora do ponto?”

As diretoras de “Caminho de Sempre”, Bruna Vieira e Sarah Corsi, contam a história de uma mulher comum que chega tarde da noite do trabalho para casa.

A voz over que ouvimos contém diálogos simbólicos. “Pode parar fora do ponto?” É uma forma de mostrar a passagem do tempo; podemos identificar que já é tarde da noite. A ausência da imagem como meio poético nos diz que algo sério acontecerá, e a trilha sonora também está a nos lembrar isso; quando a protagonista (Queren Pereira) está para descer do ônibus, quando ela está caminhando pela periferia, o som experimental que se mistura com as batidas de seu coração e os latidos dos cachorros passa-nos a sensação de um lobo à espreita. Depois, a trilha sonora se torna frenética na medida em que a protagonista avança no percurso da chagada até sua casa, tornando-se um forte elemento no curta.

O uso da câmera subjetiva de forma trêmula e a câmera na mão são características do cinema independente. Muito uso de primeiríssimo plano, sendo o único plano inteiro a explorar melhor a narrativa aquele da última cena, que traz o violentador (Bruno Peixoto).

Quando assistimos a uma notícia de violência sexual cometida contra as mulheres no jornal, o assunto causa polêmica. Muitas pessoas despejam a culpa do ato repulsivo na vítima, através de comentários como “Pelo horário em que andava na rua, não podia terminar de outra forma”, ou pelo comentário-clichê “Também, com o tamanho de suas roupas estava pedindo para ser estuprada”, como se o motivo da mulher usar roupas curtas fosse uma desculpa para o estupro.

Mesmo com a lei de prevenção contra a violência sexual feminina, muitos homens não a respeitam. Até mesmo os policiais parecem fazer pouco desses casos, por meio de perguntas que, além de expor a vítima, são um ato de deboche e desrespeito, em interrogatórios intermináveis que mais constrangem a vítima do que a defendem.

Exibido na mostra Oficinas Brasil, “Caminho de Sempre” consegue o resultado esperado, que era o de transmitir sua reflexão, feita em pouco mais de quatro minutos em um cinema de urgência, com um assunto sociopolítico que afeta grande parte da população feminina no Brasil, ainda que a linguagem imagética tenha ficado um pouco a desejar.

(Vanessa Karina de Oliveira)

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