Entre gritos e sussurros

Na Mostra Brasil 2, o conjunto de curtas-metragens aborda a tensão, tanto nas relações familiares como nas sociais: entre neto e avó em “Oma” (de Michael Wahrmann), mãe e filhos em “Pra Eu Dormir Tranquilo” (de Juliana Rojas), patrão e empregada em “Gisela” (de Felipe Sholl) e dos quatro personagens envolvidos em “Contagem” (de Gabriel e Maurilio Martins).

A angústia, o medo e, por vezes, o terror perpassam os enredos. “Meu Medo” é o único que tangencia o tema explorando-o de outra maneira, na medida em que o conflito não vem exatamente da sociabilidade, mas da sua ausência. O filme de Murilo Hauser condensa esses sentimentos e combina o realismo e o fantástico presente nos demais curtas-metragens em uma animação – a única da sessão – executada com técnica de computação 3D. O argumento é simples: qual é o seu medo e como agir diante dele?

Para narrar essa história, a direção de arte segue um registro realista, na cenografia, e também o seu oposto, quando se tratam dos traços do protagonista. Olhos pequenos, nariz vermelho, corpo magro e tamanho extremamente diminuto o deixam ora com aparência de criança, ora de adulto. A ambiguidade se repete no cenário, um apartamento cheio de caixas com brinquedos, e na situação, dado que o personagem não está acompanhado de pai ou mãe.

Assim, objetos, sombras e até o ensurdecedor silêncio aos poucos tornam-se ameaças. Ou o grande culpado seria o monstro (ou a pessoa) que habita o outro lado da fenda da parede da cozinha? Ou na verdade é a solidão que o deixa tão frágil? Não há uma resposta, pois “Meu Medo” é isso e muito mais, uma animação tecnicamente belíssima que mistura lembranças, ansiedades, medos infantis e maduros de todos os nós, humanos. Demasiado humanos. (Camila Fink)

“Meu Medo” está na Mostra Brasil 2.

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