Mudando o foco: Bruno Polidoro

Normalmente o diretor capitaliza quase toda a atenção e análise sobre um filme, seja a metragem que for. Por circunstâncias do dia e das obras, uma figura acabou me chamando a atenção: o diretor de fotografia Bruno Polidoro. Seu nome consta em dois filmes gaúchos de mostras diferentes: “Casa Afogada”, dirigido por Gilson Vargas, e “Melhor que Aqui”, dirigido por Eduardo Wannmacher. Bruno estava presente na sessão, o que de início não me dizia nada, mas a força da composição imagética de “Casa Afogada” é tão poderosa que minha atenção se voltou para seu nome.

O curta mostra um homem isolado numa região de mangue, morando numa casa sobre palafitas. A narrativa é toda pontuada pelo primoroso trabalho de som ambiente e pela construção visual, em que os tons de verde, azul e amarelo servem de guia para a paleta de cores. O personagem vive um autoexílio, guarda sua memória por meio de fotos de uma possível família abandonada e livros representando uma vida intelectual anterior. Uma cheia leva o personagem à uma situação-limite, na qual a perspectiva de total desapego (renascimento) ou retomada fica em aberto. Interessante como a cheia é mostrada como personagem, parecendo ter uma  consciência autônoma.

Na outra sessão, lá estava Bruno Polidoro na apresentação de “Melhor que Aqui”, já atiçando o interesse em assistir ao curta –  o que demonstra o bom efeito que o trabalho anterior teve sobre mim. Mais uma vez a imagem está belíssima, mas o curta não impressiona tanto. Uma história sobre o encontro de um adolescente e uma mulher na casa desta. Logo de cara, ela folheia a graphic novel “O Espinafre de Yukiko”, de Frederic Boilet, representante de um movimento denominado “la nouvella mangá”, e a escolha do elenco mostra que essa é a referência. O traço oriental do rosto da atriz já faz essa ligação.

Embora o filme seja bem produzido e resulte num trabalho delicado, algo de previsível e sem vida se instala. Talvez as interpretações um pouco duras, talvez a condução tão parecida com diversos curtas do gênero. Acaba ficando na média e pode sensibilizar parcela do público, mas não vai além disso. Em todo caso, fica novamente comprovado o talento para a direção de fotografia de Bruno Polidoro, um nome que merece atenção. (Carlos Alberto Farias)

“Casa Afogada” está na Mostra Brasil 10; “Melhor que Aqui”, na Mostra Brasil 3.

 

2 thoughts

  1. Após Entrevista do Professor Ruy Carlos Ostermann com a talentosa Ana Maria Bahiana, fui fazer o seu Curso: Como ver um Filme e aprendi a ter outro olhar e a valorizar todos os aspectos de uma Produção: da idéia á pipoca!!! Vocês aguçaram a minha curiosidade pelo trabalho do Bruno e não poderia me omitir aqui e vim dizer-lhes isso, sabedora que sou do seu valor e de quão importante é a sua atuação como Diretor de Fotografia. Já havia feito Curso de Roteiros, antes…mas a Ana Maria me proporcionou uma visão mais ampla!!! Em dois dias!!! Quem sabe: SABE!!!Grata pela atenção, sucesso a Todos!!!

  2. Pode parecer suspeito, porque o Bruno é o fotógrafo de todos os trabalhos que eu produzo, mas vamos ouvir falar muito neste nome. E além do belo resultado que se vê em todo e qualquer trabalho que ele faça, o melhor de tudo é que ele é um diretor de fotografia sensível, esforçado, apaixonado, que conhece muito e agrega demais aos filmes em todos os sentidos. Ter o Bruno na equipe não é só ter uma bela foto, é um prazer de companhia e aprendizado. Adoro esse garoto.

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