No entiendo

Os avós são recorrentes no trabalho de Michael Wahrmann. Depois de “Avós” (2009), o diretor realiza “Oma”. No futuro, quem sabe, ele complete uma trilogia sobre a temática. Wahrmann conta que, numa busca para combater o tédio da tarefa de visitar a sua avó todos os dias, ele passou a filmá-la. Assim, se entretinha nas horas de palavras trocadas, desentendimentos e repetições. Decidiu buscar esse material anos depois, e ver o que poderia resultar disso porque, segundo ele, “uma coisa é filmar a sua família, a outra é mostrar isso para o público”.

A sinopse do filme é sucinta e clara: “Ela fala alemão. Eu falo espanhol. Ela não escuta. Eu não entendo”. Pode-se dizer que a fala mais freqüente no curta inteiro é “no entiendo”. O diretor uruguaio tenta conversar com a avó, que oscila entre espanhol e alemão como que sem se dar conta. Ela parece desesperada por manter esse vínculo que parece escapar por entre seus dedos, por entre as palavras que o outro não domina.

Uma ficcionalização da vida real, uma auto-ficção. Os dois personagens encenam um teatro para a alegria do outro. Ele finge que fotografa, ela finge que posa. O ritual da chegada ao apartamento, da visita, da despedida é, literalmente, um filme com começo, meio e fim, em constante repetição.

As cores do filme são o olhar de Oma, da avó que mal consegue ver, e fala que vê tudo cinza. O curta não deixa de ser auto-referencial; as imagens em preto-e-branco funcionam como se um espelho tivesse sido posto em frente à própria personagem-título.

Em “Oma”, como no curta anterior, a comida é associada às avós; as bolachas oferecidas devem ter gosto de infância. Os gestos acabam tornando-se sua maior forma de demonstração de afeto, já que as palavras não funcionam mais.

Esse é o recorte que Wahrmann quis dar a essa vivência; isso é o que ele quis que o público visse. Seu pedaço de história que quis compartilhar, expor, mostrar para o público. (Mariana Serapicos)

“Oma” está na Mostra Brasil 2.

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