O medo de dentro

Murilo Hauser e Henrique Martins estão dando novas formas ao cenário da animação brasileira. Narrativa onírica e cores escuras moldam os trabalhos da dupla. Em seu trabalho mais recente, “Meu Medo”, eles tratam da infância de uma maneira mais aparente do que no trabalho anterior, “Silêncio e Sombras” (2008), mas não por isso menos poética.

Um garoto preso em casa tem seu mundo restrito a poucos cômodos, uma TV, um cobertor e um vaso de plantas. Esse pequeno universo toma um tamanho descomunal, tudo se engrandece. Os sentidos são aguçados e ele se torna refém de suas próprias paredes; a casa toma vida, ela respira. Lacrado naquele ambiente, como a sua própria planta, ele busca por alguns raios de luz.

Serão delírios de uma febre alta esse monstro no qual a sua prisão se transformou? Ou será apenas a perspectiva infantil sobre um lar vazio? Sem contato com a chamada “realidade”, com o mundo exterior, o mundo interior pode sofrer metamorfoses; as possibilidades são inúmeras. As asas para a imaginação acabam sendo um sinônimo para oportunidades para a criação, criação assustadora.

O único refúgio para a paz se encontra na janela, o portal para o mundo lá fora,  que apresenta perigos muito mais palpáveis. Os sons da rua ofuscam os sons de dentro, o medo se torna menos claro, quase inaudível. Será o tangível mais seguro? Os carros, o perigo da rua? Com o tempo, nós acabamos tirando nossas próprias conclusões e optamos por deixar a janela aberta ou fechada. Quem sabe só uma fresta. (Mariana Serapicos)

“Meu Medo” está na Mostra Brasil 2.

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