O PODER DE MANIFESTAR-SE – Quem diz pátria diz morte, de Sebastián Quiroz (Chile)
por Lorde Lore
Quem diz pátria diz morte é um documentário experimental dirigido, roteirizado e produzido por Sebastián Quiroz. Com uma narrativa emancipatória, traz uma formatação para o nosso olhar político, nos apresentando 101 motivos para protestar.
Em 2019, o Chile surpreendeu o mundo com uma onda de protestos civis. No início, os manifestantes eram contra o aumento do preço da passagem de metrô (cerca de 20 centavos na tarifa), e em poucos dias passaram a contestar o sistema político como um todo. Em resposta, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, decretou estado de emergência, colocou o Exército nas ruas e determinou, por três noites consecutivas, um toque de recolher nas principais cidades do país.
O filme se passa no dia 19 de outubro de 2019, nos arredores do Estádio Nacional de Santiago, o palco da tortura da ditadura chilena, na primeira noite do toque de recolher na capital. O local foi usado como uma espécie de prisão improvisada nos primeiros meses do regime militar autoritário de Augusto Pinochet, que governou o Chile entre 1973 e 1990. Estima-se que nesse período mais de 3 mil pessoas foram mortas pela repressão do governo, e outras 40 mil foram torturadas.
O Chile é um país que tem um modelo político e social formatado na época da ditadura, mas seus cidadãos se esforçam bastante para não deixar a ditadura cair no esquecimento e não haver um apagamento histórico. Eles se lembram dos desaparecidos, dos mortos e de todos os afetados pela tragédia. As ditaduras do Brasil e do Chile têm diversos pontos em comum, mas a diferença se encontra na preservação da memória e na busca por responsáveis.
A obra é fruto dos cinegrafistas Isabel Riquelme, Receba Matte e Exequel Bairros, que “gravaram com coragem e coração rebelde”, enfrentando os protestos, o Exército e a pandemia da covid-19 com êxito em seus registros. Eles conseguiram captar todo o peso e poder que possui as manifestações, o impacto que a postura do povo chileno causou no país e no mundo. A pressão popular é historicamente responsável por uma série de avanços, e dessa vez não foi diferente. Hoje, o Chile caminha rumo a um novo futuro, construindo uma nova Constituição a partir do voto popular, retrabalhando, na medida do possível, o legado grotesco deixado pela ditadura.