O que vê de cima não atinge

Destaque na forte seleção da Mostra Brasil 3, na qual um recorte sobre os relacionamentos ligados à família e ao tempo prevalece, “O Céu no Andar de Baixo” destaca-se por agregar e expandir essa proposta. De início, parece tratar-se de um registro documental exótico sobre um rapaz, de nome Francisco, que tira fotos do céu ligando-as a momentos relevantes (ou nem tanto) de sua vida. Só aparecem as tais fotos, atreladas a uma narração em off relatando o contexto e a personalidade do “fotógrafo”.

Esse procedimento o liga diretamente aos dois ótimos documentários desse programa: “Vó Maria”, de Tomas von der Osten, e “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar”, de Rafael Urban, que trabalham de forma criativa a imagem e a memória reconstruída por meio de terceiros.

A quebra acontece quando se explica a doença de Francisco: uma disfunção no pescoço que o faz olhar para o céu ou para o chão. Uma animação entra no enquadramento das fotos para contar isso e, em instantes, toma conta de toda narrativa. O que parecia documental transforma-se numa bela e estranha história sobre aceitação, amor e desencontros. O apuro do traço e a criatividade para usar a liberdade e recursos da animação, emergindo do onírico o amargo da vida real, impressiona. Belo trabalho do diretor Leonardo Cata Preta e equipe. (Carlos Alberto Farias)

“O Céu no Andar de Baixo”, “Vó Maria” e “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” estão na Mostra Brasil 3.

2 thoughts

  1. Realmente todos são ótimos. Gosto muito de “Vó Maria”, o recurso da foto é indissociável do contexto do filme. Há uma justaposição de tempos contrários na narrativa.De início mal distinguimos que é uma foto, só o depoimento da filha vai nos situando. Com o passar do tempo a foto vai ganhando definição enquanto a troca de familiares vai deixando a memória mais distante e dispersa . No fim há a junção com o que seria o momento atual quando a foto/quadro está nítida e a tataraneta desiste de lembrar histórias que seus parentes falaram e relata só o medo que têm daquela face petrifica. Um mapeamento do esquecimento e a perda do significado inicial da representação.

  2. Eu gostei dessa mostra, única coisa que não gostei foi que “Vó Maria” fica muito preso na foto da senhora. Mas no contexto geral o filme é bom e cumpre bem o que se propôs.

    Concordo com você que o destaque foi “O Céu no Andar de Baixo”, animação muito boa tanto graficamente quanto em conteúdo narrativo.

    Os filmes “L”, “Melhor Que Aqui” e “Uma primavera” também são muito bons.

    Valeu a pena ir nessa mostra.

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