O Táxi de Escher: o tempo do espaço

o taxi de escher

por Valéria Tedesco –

A presença do infinito nas obras de M. C. Escher pode ser considerado um de seus pontos mais marcantes. A ideia de uma representação que sempre retorna para o início de uma maneira diferente da original, formando assim uma sequência infinita de caminhos e possibilidades, são constantemente apresentadas pelo artista em suas obras.

Logo no início do curta-metragem O Táxi de Escher, exibido na sessão Panorama Paulista 1, a referência ao universo idealizado por Escher fica clara desde o primeiro momento. A cena de abertura, com a entrada e saída de pessoas do mercadão, aparecendo e desaparecendo ao cruzar uma linha imaginária no centro do quadro, é a primeira relação de desconstrução entre espaço e tempo que podemos levantar na narrativa.

O filme está em constante desconstrução. O retorno as cenas iniciais com perspectivas e acompanhamentos diferentes. As mudanças de enquadramento atuam quase como um novo personagem, o único que parece estar presente em todos os momentos, é através da mudança de quadro, seja ele fixo ou com a movimentação da câmera, o filme percorre todos os caminhos dos personagens que, no final, tornam-se apenas um.

A narrativa retorna o tempo todo para diversos elementos apresentados em cenas anteriores, como quem diz, olhe mais uma vez, preste mais atenção. As voltas que o filme percorre, mais do que representar a busca do personagem por respostas internas e externas a ele, instiga o espectador a observar melhor as situações e objetos ao redor, e perceber que eles podem ter mais do que um, dois, três significados. Em diversos momentos, as mesmas falas são utilizadas com abordagens diferentes, reforçando a ideia de pluralidade de interpretações, mesmo para uma ação idêntica.

De todas as maneiras de interpretar o filme de Flavio Botelho e Aleksei Abib, fico apenas com a sensação de que não se faz possível, tampouco necessário, criar uma definição limitada sobre a narrativa, mas sim uma reflexão em constante movimento sobre os (des)encontros e suas consequências.

O Táxi de Escher está na mostra Panorama Paulista 1. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2014

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