Sonhos de liberdade

A primeira coisa a levar-se em conta sobre “Aguasala”, dirigido por Cristiane Arenas, é a circunstância como ele foi captado. Filmado dentro da Fundação Casa em cinco dias, com tensão crescente e irritabilidade das internas conforme os dias passavam e sua rotina era modificada pela equipe de filmagem. Como disse a diretora na conversa após a exibição, “fomos expelidos de lá”. Isso com certeza contribuiu para alguns desacertos, mas as qualidades narrativas sobressaem.

O filme conta a história de Ana, menor presa que descobre sua gravidez dentro da instituição. Os planos de corredores, salas de aula e grades salientam a semelhança do local com o ambiente encontrado em escolas públicas (os uniformes das meninas também). Essa semelhança possibilita um trabalho com essa ambiguidade e gradativamente descobrimos onde ela realmente está. A presença constante do namorado também embaralha as coisas.

Nessa perspectiva, a cena mais problemática é a da discussão entre Ana e o rapaz. A ação entrecortada de planos diferentes com cortes secos, mantendo a linearidade, parece solução para problemas do material (talvez de atuação, interferência externa ou captação), tirando a força de um momento central. Infelizmente, pois justamente a edição sobressai-se no restante do curta, seja a cena inicial na qual o tempo e nitidez são alterados ou no corte para a cena idílica final que, junto com a música da banda colombiana Bomba Estéreo, produz um belo efeito e desfecho.

Um filme com arestas, mas que possui qualidades suficientes para causar empatia e interesse pela história e seus personagens. (Carlos Alberto Farias)

“Aguasala” está no Panorama  Paulista 2.

 

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