De Sganzerla a Tarantino, uma geleia geral
Faroeste – Um Autêntico Western, exibido Mostra Brasil 7 no CineSesc, foi premiado no Festival Anima Mundi este ano como Melhor Curta Brasileiro pelo júri popular no Rio de Janeiro. A animação de Wesley Rodrigues realmente merece elogios.
No sertão árido um urubu ao nascer, sem pai nem mãe, toma gosto pelo crime e violência desde pequeno e se torna o grande terror da região. Se trocássemos a palavra urubu por criança teríamos o personagem mais icônico do cinema brasileiro desde a Retomada: Zé Pequeno. O contra-plongéé de Cidade de Deus de Dadinho com a arma rindo de maneira tresloucada aparece aqui com o pequeno urubu. Não só este “bandido” parece ser homenageado no curta goiano: o urubu marginal/cangaceiro aparece rodando em alta velocidade num carro conversível em algumas cenas, atirando contra tudo e contra todos como o Bandido da Luz Vermelha, outro personagem clássico dos anti-heróis brasileiros.
Assim como o longa de Sganzerla era uma pot-pourri, ou geleia geral, de referências pops e cinematográficas, o curta Faroeste – Um Autêntico Western também o é. A violência vingada por mais violência e o espaço sem lei são temas recorrentes não só no Western tradicional, como também no cangaço brasileiro que cinematograficamente bebeu muito no gênero americano (o Nordestern como classificou Salvyano Cavalcanti de Paiva).
Soma-se a essas referências o elemento oriental, não apenas esteticamente, mas também na figura do matador profissional de aluguel, um samurai raposa que irá vingar a morte de uma coelhinha pelo bandido urubu. A vingança como aproximadora da cultura ocidental e oriental por excluídos é recorrente na cinematografia pop e tem seu expoente máximo com Kill Bill de Tarantino – a trilha sonora, aliás, voltada mais para o gênero western contemporâneo, parece sofrer influencia do diretor.
Esteticamente, Wesley Rodrigues mescla de maneira muito feliz elementos da grafic novel com cores mais vibrantes e formas mais geométricas para o universo cruel do urubu, além do anime japonês de cores mais pastéis e elementos mais arredondados para as vítimas do bandido e seu espaço de convivência. Ambas as referências trabalham muito com a velocidade, imprimindo um ritmo veloz ao curta, e de planos em detalhe ou super closes que ajudam a criar a tensão entre os personagens.
Alguns dos pontos mais interessantes do curta são traço e técnicas de animação 2D, a opção por deixar marcado o traço do desenho, a textura de técnicas utilizadas como o uso de giz de cera e tinta. Isso faz com que o espectador veja um trabalho autoral e não apenas uma história bem contada.
Com certeza Faroeste – Um Autêntico Western terá uma carreira vitoriosa em todos os festivais que participar.
Malu Andrade