Pausas, movimentos e sorrisos

A Garota Má (La Niña Mala), de Jorge de León Amador, mostra um pequeno fragmento na vida de uma garota e das pessoas que a rodeiam. O filme me pareceu estar sendo apresentado como um documentário: a menina olhando para câmera, a composição das texturas no cenário, os enquadramentos diretos. O tempo das ações.

Com essa primeira conexão, o diretor deslocou a minha posição de observadora da situação para colocar-me como ouvinte da história que a garota iria contar. Sinto que fui pega pela mão e jogada com muita sensibilidade e artimanha para dentro da obra. Aos poucos, Jorge começa a alterar a temporalidade da captação, o que provocou em mim um recondicionamento de olhar dentro da própria obra, por um recurso de linguagem.

No filme, há a mão, muito presente, do autor. Não vejo que está simplesmente sendo contada uma história, ou revelada uma idéia. Acredito que nas suas escolhas, começando pelo tempo dos planos, o diretor tenha conquistado algo raro e, na minha opinião, tão necessário: uma autoralidade bastante radical. Ele parece ter tomado todas as decisões e feito todos os cortes necessários para revelar a essência da sua personagem.

O filme é repleto de momentos indizíveis. O olhar das mulheres que dançam é profundo e completamente contraditório com os seus corpos. Esses mesmos olhares re-significam o olhar da garota. A garota e sua maldade são contados para o espectador por vias indiretas: pelo tempo das pausas, pelos movimentos das outras mulheres e pelo seu sorriso. (Carolina Sudati)

A Garota Má está na Mostra Latino-Americana 3. Clique aqui para ver as sessões do filme