“Não entendo, Oma”
Michael Wahrmann, que esteve na edição passada do Curta Kinoforum com “Avós”, traz este ano “Oma”, desta vez um curta-registro filmado em DV sobre suas visitas à casa de sua avó Oma Wahrmann (leia aqui texto de Mariana Serapicos sobre o mesmo filme).
Ao final da primeira sessão, o diretor comentou: “Eu não conseguia visitar minha avó…não tinha paciência!”. Segundo ele, a desculpa para que essas visitas ficassem mais “suportáveis” foi a câmera. Michael passou a filmar seus encontros com a avó sem a intenção de fazer um filme. “Só depois de alguns anos que vimos que esse material poderia resultar em alguma coisa.”
A repetição de algumas situações dá ao filme uma boa carga cômica. O entra e sai das visitas. Das palavras que se fazem repetir pela surdez de Oma ou das que ela esqueceu e engasga procurando dentro da memória. Para agravar, além da idade, a senhora é alemã e não fala nem compreende bem o espanhol. Dá-se assim a enorme incomunicabilidade entre Michael e a avó. A frase “Não entendo, Oma!” vira bordão do filme.
A sequência do café é genial. Ela implica que aquele café que lhe foi servido não é o mesmo que toma todos os dias, o “Bracafe”. E era. Mas na verdade, depois de 10 minutos de conversa persuasiva, ela lembra que não era isso que estava dizendo; ela desejava tomar mate. Corte para ela já tomando o mate.
A posição de Michael como personagem-câmera-diretor o privilegia e potencializa a comicidade e espontaneidade das situações. Lembra-nos que é possível fazer um bom filme de forma simples e sensível. O narrador praticamente aparece apenas em ações e diálogos. Os supercloses em Oma ocupam-se em mostrar melhor a relação, que é tanto de impaciência como de intimidade. Ao reclamar de sua visão, ela diz “tudo está cinza”; o filme segue essa cor granulada. A personagem cativa por meio da personalidade caduca. (Mirrah Iañez)
“Oma” está na Mostra Brasil 2.