A caricatura da Monga

A Monga, personagem famosa do folclore infantil, ressurge como protagonista do filme de Petrônio Lorena. Misto de mulher e macaco, figura presente em circos mambembes e parques de diversão, a Monga de Petrônio não é aquela acostumada a se exibir aos olhares curiosos. Sua lenda ressurge em meio a uma série de crimes sexuais cometidos na cidade de Recife. Esses são os elementos da sátira criada em “Calma, Monga, Calma”.

O tom humorístico do curta, que faz piada com personagens e costumes da cidade de Recife, relembra “Recife Frio”, de Kleber Mendonça Filho, exibido no festival do ano passado. A série de crimes cometidos pela Monga é retratada por meio das reações de personagens caricatos que habitam a cidade. De repórteres sensacionalistas a delegados de polícia truculentos, um emaranhado de caricaturas compõe o cenário, que garante risadas o tempo todo.

Tudo isso sem mostrar diretamente a principal personagem do curta. “Calma, Monga, Calma” usa o mistério e a curiosidade, típicas das apresentações da mulher macaco em parque de diversões, para fazer sátira aos costumes da cidade. O programa de televisão que debate os crimes da Monga leva ao extremo essas caricaturas. A seriedade com que o tema é tratado nos faz pensar sobre a espetacularização desse tipo de programação, que explora fatos bizarros como forma de aumentar a audiência.

O curta reforça a vocação recifense em produzir filmes instigantes e que dialogam com a cultura local. Por mais que a bizarrice seja exagerada (propositalmente), é o exagero que faz com que a sátira critique costumes, personagens e condutas que têm relação direta com a realidade. Talvez para um recifense, seja mais fácil identificar elementos do dia-a-dia no filme. Mas, mesmo utilizando o regionalismo, “Calma, Monga, Calma” consegue dialogar e arrancar gargalhadas de qualquer público. O mistério que permanece é: qual será o próximo ataque da Monga? (Renato Batata)

“Calma, Monga, Calma” está na Mostra Brasil 5.

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