Delicadeza Intimista sobre Vento Dourado, dirigido por André Saito

por Mel Emiliano

Os desafios da senilidade e a intimidade nas relações de um indivíduo que se encontra no limiar entre a vida e a morte são temas retratados no curta metragem Vento Dourado (2023). Dirigido por André Saito e produzido pela MyMama Entertainment, o filme é uma docuficção que revela a vida de Haruko Hirata, avó materna do diretor, e a sua relação com Sumiko, sua filha.

André Saito é um diretor e produtor nipo-brasileiro que tem buscado explorar sua ascendência japonesa. Saito encontrou no cinema uma forma de retratar suas descobertas, e realizou uma trilogia de curtas-metragens que conta com as obras De Coração a Coração (2022), Vento Dourado (2023) e Amarela (2024). Esses filmes, apesar de contarem histórias distintas, retratam relações interpessoais de pessoas de ascendência asiática vivendo no Brasil. O cineasta esteve recentemente no Festival de Cannes com seu último trabalho Amarela, onde afirmou estar contente por representar o Brasil e também feliz por ser um filme realizado majoritariamente por pessoas de origem asiática.

Vento Dourado é ambientado em volta do caseiro cotidiano de Haruko e Sumiko – mãe e filha que, apesar de viverem no Brasil, ainda possuem fortes laços com a cultura do país de origem. Sumiko é responsável por todas as tarefas domésticas, desde se encarregar pelos cuidados de Haruko até realizar funções para prover o alimento da família. Ao decorrer do curta, as personagens revivem fantasmas de seus passados, principalmente após a descoberta de que Haruko não tem muito tempo de vida.

O curta-metragem utiliza planos longos e delicados como forma de aproximação do espectador, fator que evidencia a fragilidade da família em um momento tão decisivo. Vento dourado cria um espaço de intimidade entre filme e público que é capaz de emocionar toda uma sala de cinema.

O filme é uma rara representação da cultura nipo-brasileira dentro do cinema nacional. É importante pontuar a força da ancestralidade japonesa presente nas personagens, que se evidencia principalmente no idioma e costumes dessas. Entretanto, Sumiko e Haruko não deixam de lado a brasilidade presente no seu dia a dia, visto que, na maior parte do curta, seus diálogos mesclam a língua japonesa com o português abrasileirado.

Assistir a Vento Dourado é como ser consolado diante de uma situação difícil. Apesar de propor um tema desconfortável e melancólico, o filme não se prende somente aos seus momentos tristes. Mesmo cientes da condição da avó, a família decide sair de casa e eles aproveitam uma tarde em conjunto, criando novas memórias com Haruko.

A leveza do filme revela uma vontade única do cineasta de registrar a vida ou, por outra, o fim da vida de alguém. Essa vontade fez com que André Saito criasse um documento cinematográfico íntimo sobre sua avó e sua ancestralidade, que é tocante do início ao fim, além de ser uma grande homenagem a Haruko Hirata — que veio a falecer pouco tempo depois da gravação da obra.

Biografia: Mel Emiliano tem 20 anos e é uma amante de filmes de longa data. Atualmente está cursando o segundo semestre do curso de Cinema na Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), onde desenvolveu apego pela criação de filmes, curadoria e críticas de cinema.

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