O Cinema que Não Agoniza sobre Este Cinema tão Augusta, dirigido por Fábio Rogério

Por Renan Galcci

A sala de cinema é um espaço de encontros e parte essencial da experiência cinematográfica. Os cinemas de rua, com suas curadorias especiais pensadas fora do circuito comercial e por um espaço único, direcionado à sua própria atividade, são também possibilidades de se pensar o cinema e estimular nosso amor pelos filmes. Assim como o cinema vem se transformando desde sua criação, os cinemas de rua também se reinventam e lutam pelo direito de pertencimento na cidade.

Este Cinema tão Augusta nos convida a passar pelo último dia de funcionamento do anexo do antigo Espaço Itaú de Cinema (atual Espaço Augusta de Cinema), após uma longa batalha entre o espaço de exibição e a construtora Vila 11, dona do imóvel, que pretendia construir um prédio no local. A perspectiva do diretor Fábio Rogério é de mostrar o cinema como um espaço importante para o desenvolvimento cultural do centro de São Paulo, e evidenciar a importância do cinema de rua como parte da preservação do audiovisual brasileiro. 

A referência ao curta Esta rua tão Augusta (1968, Carlos Reichenbach), não se limita apenas ao título do filme; ela também se manifesta na perspectiva participativa do diretor em cada decisão artística. A ironia está presente na história do centro de São Paulo, caracterizada por suas inúmeras transformações, incluindo a especulação imobiliária, uma ameaça constante. A narrativa é estruturada a partir de entrevistas e imagens do último dia de funcionamento do local. O espaço de exibição divide o protagonismo da narrativa com alguns de seus funcionários, que compartilham histórias de dedicação ao espaço, e a escolha dos planos é pensada justamente para fazer essa conexão. Essas escolhas permitem um olhar íntimo para essa tentativa de apagamento, e a resistência surge exatamente dessa sensação de insegurança e da importância da preservação da memória do espaço.

A experiência torna-se ainda mais valiosa por sua exibição no atual Espaço Augusta de Cinema, durante a 35ª edição do Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, após esse momento de incerteza retratado no curta. O filme foi apresentado na mostra “Fina Flor Marginália” que, assim como sugere o nome, celebra a arte independente nacional. Com uma sessão lotada, o espírito da força audiovisual brasileira se fez presente.

Biografia: Renan Galcci é  estudante de Produção Audiovisual e apaixonado pelo cinema. Ele acredita na arte como uma maneira de expressar seu interior através das imagens e sons. Desenvolve seu lado artístico entre a escrita de roteiros e direção, e pesquisa sobre cinema.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *