Diversidade internacional
por Ricardo Corsetti –
A seleção de filmes que abriram a 25ª edição do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo foi, sem a menor dúvida, bastante variada, indo desde um clássico absoluto do formato até uma animação feita a partir das mais modernas técnicas de computação gráfica.
O primeiro filme exibido foi Labirinto Eletrônico: THX 1138, feito em 1973, pelo hoje renomado e badalado diretor norte-americano George Lucas. O filme em questão tem seus méritos enquanto exemplo de cinema não-narrativo e esteticamente interessante por fazer uso dos recursos de transparência e opacidade (conceitos estes que aprendemos em aulas de comunicação visual nas faculdades de cinema atuais). Mas o fato é que a ideia de um futuro sombrio dominado pela frieza tecnológica, por já ter sido exaustivamente discutida e explorada tanto pela literatura quanto pelo cinema contemporâneo, acaba soando um tanto datada. Além disso, outros cineastas também fascinados pelo tema, assim como Stanley Kubrick em Laranja Mecânica ou David Cronenberg em Videodrome, conseguiram abordá-lo com mais profundidade e melhor fluência narrativa.
Em seguida, tivemos o curta colombiano Leidi (2014), dirigido por Simon Mesa Soto. Vale destacar o fato de que este filme foi, recentemente, vencedor na categoria de melhor curta-metragem no Festival de Cannes. É inegável que o filme conta com um ótimo trabalho de direção, possui boa fotografia, etc. Porém, em termos de roteiro, é bastante raso, e não foge ao já lugar-comum do cinema de caráter social praticado na grande maioria dos países latino-americanos. A propósito: é óbvio que tal comentário não significa que eu não reconheça a importância e necessidade de se retratrar a realidade de exclusão social e má distribuição de renda que caracteriza a quase totalidade dos paíse latino-americanos. Eu apenas gostaria de ver uma maior diversidade temática e de gêneros sendo praticada aqui fora do eixo norte-americano e europeu de produção cinematográfica. De qualquer modo, conforme já mencionei, do ponto de vista técnico, Leidi tem lá seus méritos.
Tivemos também o belíssimo Three stones for Jean Genet (2014), dirigido por Frieder Schlaich. O curta foi rodado em película 16mm, com linda fotografia em preto e branco e imagem granulada. Trata-se de uma grande homenagem ao dramaturgo e poeta marginal por excelência Jean Genet. E conta com narração e presença da eterna musa indie Patti Smith. Para aqueles individuos que, assim como eu, já passaram dos 30 anos e são fãs ardorosos de ambas as lendas citadas (Jean Genet e Patti Smith), a nostalgia com certeza bate forte e é preciso se segurar para não cair em lágrimas de emoção. Obrigado, Frieder Schlaich, por essa obra-prima incontestável!
Na sequência, vimos We Are Not Amused (2013), dirigido pela britânica Vicki Bennet. Trata-se de um bem-humorado curta de animação (que aparece utilizar a técnica conhecida como rotoscopia), retratando a influência das mitológicas musas gregas do conhecimento, nas artes em geral. A ideia é muito boa e divertida, apenas acho que a diretora poderia ter extendido um pouquinho mais a duração do filme para desenvolver melhor o tema.
Por fim, tivemos o ótimo Meu Amigo Nietzsche (2012), dirigido por Faustón da Silva. Em termos técnicos, o curta é bastante simples e até mesmo convencional. No entanto, a ideia central da trama: um garoto humilde que encontra jogado no lixão um exemplar de Assim Falou Zaratustra e, a partir daí, tem sua visão de mundo completamente transformada pelo livro, é simplesmente genial! Isso sem contar para quem ainda não o assistiu o igualmente hilário desfecho da trama. Em resumo, Meu Amigo Nietzsche é um ótimo exemplo de como bastam apenas uma câmera no tripé e uma ideia na cabeça (somada a um elenco amador) para se fazer um bom e extremamente criativo curta-metragem.
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