Entre o céu e a Terra há o humano sobre STARLIT, dirigido por Raul Perez
Por Adriana Gaeta
“Você tem um carro veloz, eu quero uma passagem para qualquer lugar, talvez possamos fazer um trato, talvez juntos nós possamos ir para algum lugar”.
-“Fast Car”, de Tracy Chapman.
Starlit é um filme sobre reconexão. Um afronauta desembarca na Terra, em busca de um “religare”, ou seja, uma comunhão com sua essência interior, com o outro e com o cosmos. Em sua jornada por esse novo planeta, o astronauta vive a dualidade entre o despertar para o humano e a necessidade de se despir da proteção de seu capacete/casulo.
A aventura do protagonista também se torna a nossa e esse pacto é construído de maneira muito consciente pelo cineasta, Raul Perez. Inicialmente, vemos o astronauta em planos mais abertos, com destaque para a paisagem da cidade trabalhada em foco/desfoque, que reforçam a ideia de um lugar ao qual o astronauta ainda não pertence. Ao longo da narrativa, contudo, os planos se tornam mais fechados, com destaque para os closes à medida que o protagonista se depara com toda a beleza do nosso mundo, Terra. O astronauta está desprotegido. Sensível e frágil como nós, ele vaga pelas ruas procurando experimentar gostos e sensações. A música de Tracy Chapman cessa para que o afronauta possa se maravilhar com a constelação artificial, feita de luzes de neon.
A cena final, da mão ante o painel iluminado, vermelho como o sangue, reforça a crença que entre a indiferença da multidão e o caos urbano, o que nos conecta é uma canção que também é sobre prece, amadurecimento, esperança e fé. Somos todos astronautas.
Biografia: Adriana Gaeta é atriz, Pesquisadora e Roteirista. Estudou cinema e audiovisual pela ELCV – Escola Livre de Santo André e CAV – Centro Audiovisual de São Bernardo do Campo. Se especializou em Roteiro na Roteiraria, INC e Senac e em Pesquisa na Roteiraria. Docente convidada pelo Senac e arte educadora de teatro e audiovisual em equipamentos públicos. Integrante de dois projetos contemplados pelo VAI – Amor Obsoleto – teatro dança e Sororité – projeto de documentário sobre os estereótipos da cultura do estupro.