Um mix de imagens, num ritmo muitas vezes frenético, como num videoclipe, fez com que todos que estavam na sala se pregassem nas confortáveis poltronas da Sala Petrobras da Cinemateca e não fechassem os olhos nem para leves piscadas. Não se ouviam na sessão conversas paralelas; o silêncio do público só era quebrado por gargalhadas despertadas por cenas hilárias da obra.
A sonoplastia é algo que foi bem utilizado em “Remixofagia – Alegorias de Uma Revolução”. Músicas e efeitos foram usados de maneira bem sucedida para prender a atenção. Em dados momentos, a forma de empregar som e imagem é semelhante à das vinhetas dos quadros do “Pânico na TV” em relação à dinâmica e à brincadeira com os elementos, com uma diferença: o lado crítico, de certa forma até politizado, está mais presente no curta de Rodrigo Savazoni.
Sobre o dinamismo, presente em grande parte dos filmes da Mostra DF5, foi perguntado aos diretores se isso tem a ver com o fato de os vídeos terem como meio de exibição a internet. Eles confirmaram essa impressão, deixada principalmente por “Remixofagia”. Digo isso porque a internet, além de ser o meio de difusão da obra, é de certa forma o tema dela também, já que o filme trata a relação entre o livre acesso à cultura trazido pela internet e a questão do direito autoral, algo muito discutido e discutível para quem faz e consome arte.
Em dados momentos, o filme deixa escapar uma predileção pela questão da arte livre para acesso na rede. Algo interessante e que aumenta mais essa impressão é que várias partes do filme são feitas de recortes de reportagens, imagens transmitidas por emissoras de televisão, entre outras, que parecem ser tiradas de sites exibidores de conteúdo, como o You Tube.
A linguagem empregada, principalmente no começo do filme, lembrou um pouco “Ilha das Flores” (1989), dirigido por Jorge Furtado, quanto a relacionar as coisas e daí ir tirando novas coisas, de o que já foi mostrado servir de fio condutor para trazer um conteúdo novo, e tudo estar de alguma forma relacionado, como engrenagens que fazem andar a narrativa.
Algo que me espantou foi saber que os filmes apresentados na mostra eram feitos em produções independentes, como coletivos. A qualidade de “Remixofagia”, entre outros filmes, nos faz pensar que o futuro do audiovisual talvez esteja na periferia, em pólos criadores de menor renda, como oficinas, e em pessoas aficionadas por cinema que produzem sem recursos, juntando os amigos com o propósito de criar arte — especialmente se levarmos em conta a internet. (Henrique Gois de Melo)
“Remixofagia – Alegorias de Uma Revolução” está na Mostra DF5.