Cinema novíssimo
Alguns estudantes de cinema apresentam curtas-metragens extremamente autorais, com modos de filmagem que certamente usarão em seus futuros projetos. Esse é o caso de “O Nome Dele (O Clóvis)”, feito em 2004 por Felipe Bragança e Marina Meliande quando estudavam na Universidade Federal Fluminense. Logo se percebe uma tendência lúdica que estará presente nos primeiros longas da dupla, “A Fuga da Mulher Gorila”, “A Alegria” e “Desassossego” (ainda inédito no circuito comercial), que fazem parte da trilogia “Coração no Fogo”.
Em seus filmes, Marina e Felipe optam por retratar a cidade do Rio de Janeiro por meio de um ponto de vista diferente daquele já conhecido pelas telas internacionais de cinema, da beleza natural da paisagem, das “garotas de Ipanema”, Copacabana e Pão de Açúcar. “O Nome Dele (O Clóvis)” mostra a história de um casal que se apaixona em meio à violência das ruas e, ao mesmo tempo, é Carnaval. Cenas de caos urbano, com uma fotografia amarelada, contrastam a tragédia do confronto entre policiais, ladrões e civis com a multidão que festeja a vida. Aliás, a posição de câmera que mostra os camelôs fugindo da polícia é a mesma utilizada para retratar os jovens que protestam nas ruas do Rio em “A Alegria”.
Os planos trazem toda a ação da cena sem precisar de cortes e o curta priva-se de espaço-tempo, como se a história do casal flutuasse em meio ao dia a dia dos moradores da cidade. Apesar de ser Carnaval, há a impressão de que os fantasiados do cordão do boi tatá, cantando a marchinha “ei, você aí, me dá um dinheiro aí”, não estão vivendo o mesmo momento que o guardinha municipal, que é ferido e fere, ao som de “rasguei a minha fantasia”, de Lamartine Babo.
Outro elemento importantíssimo do filme é que não há diálogos falados, mas em forma de textos, como se fosse uma homenagem ao cinema mudo, mas sem a mesma função de legendar e sim participar do filme. Textos que agem com as cenas também correspondem a um estilo bastante usado pelo casal de diretores.
“O Nome Dele (O Clóvis)” é um desses filmes que representam a importância do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, principalmente para estudantes que querem divulgar seus trabalhos autorais checarem a reação dos espectadores, para continuarem dirigindo seus próximos projetos — e que eles sejam tão bonitos e poéticos como esse da Marina e do Felipe. (Letícia Mendes)
“O Nome Dele (O Clóvis)” está no programa Feminino Plural – Brasileiras 1.