Opacidade Média sobre Fantasma Neon, dirigido por Leonardo Martinelli

Por Felipe Rodrigues da Costa 

 

Fantasma Neon evidencia uma dura realidade, a dos entregadores de aplicativo. Leonardo Martinelli expõe grupos sociais marginalizados de uma forma doce, mas os reduz a apenas sofredores habituais. 

O filme mostra João e seu desejo de comprar uma motocicleta para trabalhar, enquanto enfrenta clientes mal-educados e a precariedade do trabalho. Apesar de grande importância, Martinelli trata todos os males expostos no filme de forma superficial e conformista. Nada é desenvolvido, não sabemos sobre os amores, vidas, ideias e nem nada além de sofrimentos e lamentos dos personagens. As interações entre João e os clientes denunciam sim um maltrato, mas deixam totalmente plásticas e superficiais essas ofensas. Tudo parece maniqueísta. 

Esse fenômeno com âmbito maniqueísta se faz presente no cinema brasileiro contemporâneo. Diversas produções trazem esse embate entre bem e mal, focado nos malefícios e desmoralizando lutas importantes. E há uma grande coincidência nessa questão (ou não). Filmes denúncia são largamente produzidos pela elite que ocupa a retomada do cinema nacional. A classe burguesa sente a necessidade de mostrar e criticar algo, mas como sempre, reduz tudo ao conformismo e sofrimento passivo. O caso de Martinelli não é diferente. 

O filme conta com grandes atuações de Dennis Pinheiro e Silvero Pereira, com o segundo ganhando um grande destaque. Porém, são vagas e pouco desenvolvidas, acabando focadas apenas nos números musicais. 

O conjunto da obra se transforma em um musical com músicas alarmistas e um roteiro desperdiçado. O curta vem como um projeto de urgência, discutindo um tema muito observado no cotidiano, mas reduz tudo a uma crítica pouco desenvolvida e com certo imediatismo. Tudo fica em um tom médio, deixando o invisível pouco visto. 

 

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