Filme de amor

“Pra Eu Dormir Tranqüilo” é um filme de amor mesmo, não de terror, como diz o título do texto de Mirrah Iañez (leia aqui). É um amor que encontra formas não ortodoxas de se expressar; é necrofilia cinematográfica, considerando que “nekrós” vem de cadáver e “phil” de amor. A história do garoto que encontra a babá, já falecida, no armário de seu quarto, o único monstro dentro do armário do qual Luís não tem medo.

No entanto, medo permeia o filme, seja pela aparência quase grotesca da babá necrosada ou pelo pânico que toma a mãe de Luís, na espera do segundo filho. Na ausência da mãe, a defunta Dora cumpre seu papel até após a morte. Mesmo assim, o carinho que a babá nutre por Luís não é o suficiente para mantê-la e o garoto passa a alimentar o seu sonho com aves e cachorros; ele caça a carne que sustenta seu delírio. Ocorre assim uma inversão de papéis: é Luís que cuida de Dora, que se preocupa com ela, que faz de tudo para protegê-la.

O filme pode se perder no clichê do filho ciumento, com medo da substituição do afeto. A mãe transtornada beira cair no estereótipo da depressão pós-parto e o pai invisível faz com que o espectador pondere se ele é relapso ou apenas um extra.

Na casa vazia, Dora, com aparência saudável, chama Luís para o café da manhã. Seu paraíso se concretiza enquanto pinta figuras escarlates no papel ao lado de Dora. Gostaria que seqüências como essa pontuassem mais o filme, cenas oníricas como essa de pura ternura sanguinária. (Mariana Serapicos)

“Pra Eu Dormir Tranqüilo” está na Mostra Brasil 2.

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