CICLO 7×1 e o legado da Copa
por Lígia Hsu –
Este ano contamos com filmes produzidos durante a Copa do Mundo de 2014, uma oportunidade única para que cineastas apontassem suas câmeras para o olho do furacão: um evento de alcance mundial em terras tupiniquins. O diretor Gil Baroni soube aproveitar essa oportunidade através do documentário Ciclo 7×1.
Luana, carroceira, mãe de seis filhos, percorre as ruas de Curitiba durante o período da Copa do Mundo recolhendo material para reciclagem, seu ganha pão. A vida dessa mulher passa longe do maior evento do Brasil. Seus filhos estão de férias, ela não. A solução é carregar dois deles pelas ruas da cidade, enquanto a mais velha, uma pré-adolescente, dá conta dos outros três em casa.
A câmera ocupa diversos pontos de vistas: ora é Luana observando a euforia da Copa, ora observa o que Luana e seus filhos observam, ora se afasta e capta Luana interagindo com a cidade, ora se coloca dentro dos bares e mantém Luana à margem dos acontecimentos.
Existe também uma câmera instalada no interior do seu carrinho e essa proximidade revela algumas falas, na maioria corriqueiras, porém algumas bem relevantes, como por exemplo, dizer aos filhos que ninguém vai deixá-los entrar no estádio da Copa. Luana é uma mulher pé no chão e atravessa Curitiba de cabeça erguida fazendo seu trabalho. Observa os jogos nas televisões dos bares sem muito envolvimento, apenas deixa que seus filhos possam aproveitar um pouquinho da festa da qual claramente não foram convidados.
Para quem como eu não via sentido na realização de um evento desse porte frente às necessidades mais básicas e fundamentais do país, o filme vai de encontro a esse sentimento de que a Copa não foi para todos e que no dia seguinte ao fatídico 7×1, a vida e os problemas continuaram os mesmos, assim como Luana que na manhã seguinte sai com seu carrinho pelas ruas de Curitiba atrás do sustento da sua família.
Ciclo 7×1 está na Mostra Brasil 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2015