Estranhamente interessante
por Letícia Fudissaku –
Quando um recurso simples é bem explorado, fica clara a habilidade de seus realizadores. Em seus primeiros minutos, Dia Estranho já me chamou a atenção pelo uso acertado do voice over, geralmente usado em demasia – ou, citando informações que funcionariam melhor em imagem. A locução que inicia o curta, por outro lado, é mais convidativa que explicativa, estabelecendo um vínculo protagonista-espectador.
O jeito informal e meio desleixado do personagem falar me lembrou um pouco o começo do icônico Clube da Luta e logo me despertou interesse na história – que, por si só, já é bem atrativa. A premissa de um entregador de mercadorias “misteriosas” abre um leque de possibilidades – poderia até, quem sabe, originar uma série. Mas, dados os acontecimentos que se seguem – alguns até um pouco fantasiosos, mas ainda assim intrigantes –, a escolha do formato de curta-metragem foi mais um acerto.
Os aspectos estéticos também acrescem ao enredo, em especial os visuais: a fotografia meio sépia e contrastada evidenciam uma atmosfera de submundo e a montagem acelerada e os jump cuts condizem com a instabilidade emocional em que se encontra o personagem. As sequências repetitivas aumentam a sensação de agonia e o anseio para saber o que acontece a seguir. Depois desse redemoinho, a história se encerra em um final arrebatador.
Sem muitas abstrações, a narrativa de Dia Estranho é instigante e muito bem construída, com momentos de tensão de tirar o fôlego. O próprio título é uma bela síntese do curta, que contém ainda uma impactante trilha na sequência de créditos (iniciais e finais). É um dos poucos curtas em que consegui analisar seus diferentes aspectos individualmente, sem me perder ou perder o interesse na história em si. Estranho ou não, me diverti assistindo!