Das origens das criaturas
por Samuel Mariani –
The Master’s Voice: Caveirão é um curta que se relaciona com as temáticas dos filmes anteriores de Guilherme Marcondes. As técnicas de animação diferenciadas como a manipulação direta em vídeo, light writting e o pixilation ilustram bem a liberdade de criação do curta-metragem e a referência ao trabalho anterior de Marcondes, como em Tyger (2006).
A partir de uma locação real bem específica paulistana e uma premissa simples, o curta se desenrola usufruindo de uma boa direção de imagens animadas, ótimo tracking e ritmo. Assim, os espíritos noturnos da cidade ganham espaço para sua atuação temática e burlesca, além de esbanjar seu design lúgubre e bem elaborado.
Desse trabalho com o cômico e o sinistro, Caveirão também destaca uma figura policial autoritária quase humana e sua perseguição aos fantasmas boêmios. Porém, a razão desta caçada se enrola à existência deste personagem vigilante de uma maneira em que a narrativa em primeiro plano parece se justificar retroativamente, o que, ao meu ver, perde para a liberdade expressiva das animações do curta, que me parece muito mais atraente.
Dada esta narrativa justificada ao curta, parece-me pouco comparado à carga folclórica e de herança simbólica das animações, mesmo porque ela ganha mais importância em termos de montagem, pois a exposição do universo “animado” possui mais tempo de tela e é feita de maneira muito apurada.
De qualquer maneira, a locação poluída e a iluminação escassa contribuem para legitimar as animações que dançam em um cenário real, com referências refinadas e transições bem planejadas entre segmentos.
Para além da ideia do vigilante, me encanta no trabalho de Guilherme a sobrevida que o curta-metragem tem quando deixa livre para a imaginação a causa/origem dessas criaturas noturnas paulistanas, mistério e abertura que marca seu trabalho e que o expande para infinitas possibilidades.