Master Blaster: descoberta de humor na Nebulosa 2907N
por Amanda Martinez –
Um dos filmes com título mais comprido do festival e, ao mesmo tempo, não muito esclarecedor de início, com certeza está entre os que mais conseguiram entreter a plateia. O mistério a respeito do conteúdo de Master Blaster – Uma Aventura de Hans Lucas na Nebulosa 2907N, dirigido por Raul Arthuso, serve sem dúvida como elemento importante para impactar o público positivamente, quando se revela em meio a letreiros russos uma inesperada e divertidíssima comédia.
Em um misto de Eisenstein com ficção científica, a chamada Cidade-trabalho com dois sóis é apresentada sob o olhar sério e nórdico de Hans Lucas. O agente intergaláctico investiga o aparecimento de um novo sol vermelho que brilha constantemente, mudando o ritmo da metrópole, que passa a trabalhar sem descanso. Um ar de futuro distante engloba o discurso da narração, intrigada em compreender os seres do estranho lugar, enquanto a controversa estética de um preto e branco ruidoso lembra filmes da antiga União Soviética.
Sem fazer piadas diretas, os risos são rapidamente arrancados de quem assiste através de quebras entre a visão subjetiva do personagem e monólogos dos moradores da cidade, quase em uma espécie de reportagem realizada pelo agente. Isso se deve ao fato de a misteriosa e caótica cidade em muito se assemelhar a uma São Paulo contemporânea, local onde coincidentemente se dá a exibição do curta: há o ambulante que vende água, o vendedor de óculos escuros, os operários, todos dando seus depoimentos em bom português coloquial. A excessiva seriedade com que tal realidade tão familiar é encarada, repleta de suspense, se torna o trunfo humorístico em Master Blaster, criticando o ritmo frenético das metrópoles através de uma grande sátira.
A forma de humor empregada no curta é muito interessante e se destaca de comédias mais convencionais, onde a graça é o personagem atrapalhado. Hans Lucas, ao contrário, é um homem inteligente e dedicado, e é exatamente isso que o torna cômico. O filme conduz os espectadores através de piadas que não se focam em menosprezar ou expor, mostrando que a ironia na comédia pode ser tão eficaz quanto o famoso “rir da desgraça alheia”. Além disso, o timing dos acontecimentos é excelente, não tornando o filme arrastado e fazendo com que nem só uma risada seja falha.
Ao final da exibição, o primeiro filme na sessão Panorama Paulista 3 tem seu resultado claramente reconhecido pelo público. O final heroico de Hans Lucas é recebido com uma grande salva de palmas pelos verdadeiros habitantes da Nebulosa 2907N, espectadores de um filme leve, de bom entretenimento e criativo.