Criador e criatura
por Valéria Tedesco
Cento e oitenta segundos. Esse é o tempo que Augusto Roque utiliza para apresentar, desenvolver e criar o percurso de personagem do protagonista de seu filme, Fuga Animada. Um pequeno boneco fugitivo que trava, através de diferentes técnicas de animação, uma briga por espaço com os traços que o criaram.
A proposta apresentada pelo curta cria uma discussão em trono da relação entre criador e criatura. A mão que desenha, define a forma, também é a mão que dita os espaços. Utilizando as bordas da folha como o limite para o universo fantasia daquele desenho, delimita o controle sobre sua obra. O criador nesse momento, mantem o papel de detentor dos direitos sobre aquilo que idealizou.
Por outro lado, a obra como criatura, procura pertencer a outros espaços. Nesse momento começa a perseguição e a tentativa de definir quem pode, e quem consegue manter a voz ativa no processo. Quem criou ou a obra que, depois de feita, pode tomar caminhos diferentes daqueles que foram inicialmente propostos. O que entra em jogo não é apenas o desenho em si, mas sua representação e reflexão em outras plataformas.
Por fim, ambos voltam a frequentar o mesmo espaço e, entrando pelo mesmo lugar que saiu, o desenho utiliza a mão, o braço e o corpo de seu criador para reorganizar e juntar novamente os dois mundos. A obra continua sendo de quem a criou, mas quem a criou definitivamente não continua sendo o mesmo.