Testemunhando o Assassinato em Junín
O curta-metragem Assassinato em Junín alimenta uma discussão interessante sobre o olhar cinematográfico e toda a experiência de assistir a um filme. O público, inconscientemente ou não, já está acostumado a ter sua percepção narrativa conduzida pela montagem – que, por sua vez, segue os direcionamentos do diretor. Eis que Andrew Sala, diretor do curta em questão, oferece-nos algo fora do usual: um enquadramento aberto de uma paisagem, que se trata também de um plano-sequência estático e, nos segundos iniciais, sem registrar nenhuma ação aparente.
Essa opção estilística faz toda a diferença, na medida em que envolve o espectador de uma maneira singular: logo no começo, vem a agonia de não saber para onde olhar, onde a ação vai ocorrer. Quando a narrativa começa a se desenrolar de fato, seu ritmo é relativamente lento, especialmente por se tratar de um plano sem cortes e ocorrerem várias pausas entre as ações das personagens. Aliada ao posicionamento de câmera, essa lentidão nos aproxima da história, como se estivéssemos fisicamente presentes no local em que ela se passa.
Mais do que um mero observador ou voyeur, o espectador se torna testemunha dos eventos apresentados – entre eles, o assassinato que dá nome ao filme. Tal como se presenciasse as cenas na vida real (logo, fora de um contexto específico), o espectador nada sabe além do que vê, e justamente por isso tenta captar o máximo de detalhes, a fim de lhes atribuir sentido. Podemos ver maiores detalhes sobre a construção de um ponto de vista próprio no documentário Janela Da Alma, que explora o conceito de visão de diferentes formas.
A aflição de ficar com o olhar perdido pela tela, no começo do curta, é substituída nos momentos finais por uma ávida curiosidade a respeito do que não está sendo mostrado. É até divertida a inquietude gerada pela vontade de olhar além: é como se o diretor segurasse seu pescoço e te impedisse de ver – e, justamente por isso, tem-se a impressão de que há algo importante sendo ocultado. Essa curiosidade se intensifica, ainda, quando nos é revelado o porquê do posicionamento de câmera escolhido. Irreverente em seus aspectos formais, Assassinato em Junín desperta sensações variadas no espectador, tornando a experiência de assisti-lo memorável e estimulante.
Letícia Fudissaku
hummm….. seus comentarios me fizeram lembrar da Bruxa de Blair…..que a gente queria olhar mais, entender mais, mas não conseguia…..só dava para ver o que estava sendo mostrado.
valeu, Lele!!
bjks Sonia