Quero frátria

exposed

“O maior golpe do mundo/Que eu tive na minha vida/foi quando com nove anos/Perdi minha mãe querida (…)”.

Assim começa a canção que abre o plano sonoro desse curta em Super-8, rodado Na Bahia de 1978. É o início de uma jornada anarco-edipiana. Acerca da mãe, temos uma foto, que pode muito bem ser a tumular. A letra da canção, segue, falando da morte dessa mãe, queimada no fogo. O filme mostra indícios de seu poder dessas chamas, crepitando sobre madeira.

Mais do Campo Sonoro: agora, uma oração desesperada, em inglês, falando em Deus e Pai. Na imagem: uma figura masculina (provável cônjuge da mulher-mãe do início) também é visto por foto dotada de uma “emanação” algo lúgubre. Um Menino, sentado em cima da capota do carro dirigido por um homem adulto. De dentro do veículo, “substituímos” o motorista, por meio da câmera subjetiva, o menino escreve em uma folha de papel, que ergue, para vermos uma frase ente ele e o vidro dianteiro do automóvel: “Não Corra Papai”. Paternidade, morte, real ou imaginada em pesadelo, traumática em qualquer dos casos, de uma forma de encenação que talvez evoque, no espectador jovem, vaga lembrança dos filmes asiáticos de horror.

Trilhos de linha férrea. Aparente movimento de entrada em túnel ou estação. Túneis e entradas que me lembraram de uma aproximação simbólica freudiana com o ato da penetração, linha de raciocínio exótica, mas não descartável. Já explorada pelo Rogério Sganzerla crítico, nos carros desbravadores em Os Cafajestes de Ruy Guerra. Algo a se considerar pelo mostrado ao longo do exposto por Navarro.

Voltamos ao Deus-Pai, por meio de canção, que acompanha entre outras imagens, a cópula entre dois cães, e o fogo que queimou a mãe simbólica no início retorna. “Esse mundo é de Deus/Esse mundo é grandão pra caralho”. Deus e mundo terminam no dado fálico, mesmo que a pichação no muro que inicia a sequência seguinte diga que a divindade condena a prostituição.

Órgão, dessa vez o musical, eclesiástico, sacro, na trilha sonora. Militares descendo dos seus veículos de transporte, prontos pra uma ação de ataque, presumindo defesa da pátria, do estado-nação paternal, que acolhe apenas enquanto não pune, não castra. Navarro, como Caetano Veloso na letra de Língua, não quer pátria, quer mátria, quer frátia.

Canhões fálicos e patriarcais antecedem pais da pátria, sejam eles militares ou os antigos monarcas, tornados mitos, Deuses. Ao lado de Cristo e apertos de mãos políticos, nesse panteão há um mito anárquico, como contraponto desestabilizador, que vem do cinema, como redenção: Chaplin.

De novo a mãe Morta. O filho-Édipo estimulado quer expor seu desejo para as mulheres que aparecem. Mas a verdadeira masturbação mental está em regozijar-se das especificações técnicas de um canhão. Expostos os complexos. Ao contrário do esperado, Libertar é Emascular.

Rafael Marcelino

Exposed está na mostra Cinema do Desbunde 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013