A Coragem de Questionar uma Relação Já Afirmada sobre Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando, dirigido por Edmar Tokorino Yanomami, Roseane Yariana Yanomami e Aida Harika Yanomami

por Guto Escobar

 

Em uma sala que tinha 20 pessoas, agora chegando no fim da sessão de curtas, ficam 18. Não sei o motivo das duas pessoas terem saído da sessão, talvez elas precisassem. Depois de dois filmes sobre práticas e relações Yanomami, que tinham um aspecto um pouco mais “expositivo”, apesar de ainda sensorial e subjetivo, “Thuë Pihi Kuuwi” ou “Uma Mulher Pensando” muda tudo. Em uma confiança extrema de que nós vamos entender, o filme dá mais um passo adentro, dessa vez deixando a explicação de lado, entendendo que nós já sabemos do que se trata, e apenas nos colocando em um fluxo de pensamento e de questionamento sobre o funcionamento da vida. Quando a mulher fala sobre o preparo da yãkoana, um pó ritualístico, enquanto vemos o xamã à preparando, fica claro que a relação que cada um tem com ela é bem diferente. Nesse caso eu nem falo sobre os efeitos, pois como vemos no filme, apenas os xamãs podem usar a yãkoana, mas digo num sentido de entender sua força e sua espiritualidade e efetividade em fazer o que dizem que ela faz. 

Mesmo ao apresentar para o nosso mundo a sua cosmologia e a sua vida, esse filme faz o esforço de ainda questionar suas próprias intuições sobre o seu mundo, trazendo sob outra forma essa relação mais sensível e menos exata de entender as coisas. Posso estar errado, mas esse parece mais um filme feio para eles do que para nós. Mas mesmo assim ele nos serve. Digo isso, pois esse filme me parece mais pessoal, buscando um diálogo com pessoas mais próximas. Mas pensando melhor, “Uma Mulher Pensando” é uma mulher pensando, e eles já sabem disso, eles falam sobre isso todos os dias. Nós é que, inexplicavelmente, ainda não sabemos.

Acho importante pontuar que após todos os filmes Yanomami da sessão terem sido passados, foi colocado um vídeo de agradecimento dos diretores, falando em português, agradecendo a nossa presença e querendo (não esperando) que tenhamos gostado dos filmes.

 

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