Medo de quê?

Os Mortos-Vivos, terceiro curta da diretora e roteirista carioca Anita Rocha da Silveira, é um filme de terror ? É, mas de onde vem o medo no filme? Isso cada um deve achar da sua maneira. Eu tenho a minha.

O curta está na Mostra Brasil 6, junto com outros bons curtas brasileiros, mas se destacou na abordagem do tema, que não é de zumbis. Mostrando um mundo jovem, de maneira menos particular como em seus outros curtas O Vampiro do Meio-Dia (2008) e Handebol (2010), Anita conta a história de um grupo de garotos e garotas que vivem no  Rio de Janeiro, indo a festas e à praia, tentando achar alguém para se completar, nem que seja em apenas um beijo. Porém, de alguma maneira, o pior acontece e elas acabam sempre ficando sozinhas.

O filme segue o personagem de João Pedro Zappa (presente em todos curtas da diretora). Ele conta uma história macabra de um casal que sofre um acidente doméstico com gás enquanto toma banho; a garota morreu, mas o cara ainda não. Essa história traz o elemento mais importante do filme: uma hora ela está lá e depois não está mais. Ideia codificada na sinopse: “Bia está off-line. As mensagens enviadas serão entregues quando Bia estiver on-line”.

Bia, interpretada por Clarice Lissovsky, é a ficante do João, que desaparece sem mais explicações em uma balada a que eles vão com um grupo de amigos. O último e único plano dela é um longo,“interminável” e profundo take onde ficamos desconfortáveis, a ponto de pedir para sair da sala perante o olhar marcante da atriz mirando o vazio completado por nós enquanto anda em uma fila de banheiro feminino.

O desaparecimento da garota mexe com o rapaz, que tenta a encontrar na internet, no celular e nada. O vazio toma conta dele e então o processo se repete quando ele se envolve com sua amiga, interpretada pela atriz Anita Chaves.

O medo vem desse vazio e sentimento de abandono que chega quando a pessoa por quem você se interessa, ou de que gosta, desaparece da sua vida sem mais nem menos. Uma metáfora das relações passageiras e insignificantes da geração atual? Talvez.

O filme traz ainda muitos elementos que à primeira vista não dá para entender, como o monumento da pirâmide e a esfinge, entre outros, usados para criar o sobrenatural em uma história de realismo fantástico muito bem executada.

Gabriel Ribeiro

Os Mortos-Vivos está na Mostra Brasil 6. Clique aqui e veja a programação do filme

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