PEQUENO MANIFESTO CONTRA O CINEMA SOLENE (Entrevista)
Contra fórmulas e clichês
Exibido na Mostra Latino-Americana 1, a produção argentina “Pequeno Manifesto contra o Cinema Solene” chama a atenção por conta de suas grandes letras na tela, os recursos visuais e sonoros com que é construído um grande discurso sobre o Cinema. Durante a sessão, os espectadores ficavam entre uma risada e um olhar sério, se questionando em relação às proposições vistas na tela.
Roberto Porta, diretor do curta, falou conosco em português via internet, contando sobre a produção do filme e de sua carreira. Antes de estudar cinema na Universidade del Cine, em Buenos Aires, ele cursou brevemente ciência.
Seus curta anterior é “Jorge”. “Pequeno Manifesto contra o Cinema Solene” participou da mostra Cinéfondation no Festival de Cannes.
CRÍTICA CURTA (Guilherme Franco): Você utiliza com primazia um misto de ironia, comédia e até uma análise fílmica, de como vivemos presos a fórmulas e clichês cinematográficos. De onde surgiu a ideia do filme?
ROBERTO PORTA: A ideia começou depois de assistir a uma projeção de curtas em Buenos Aires. Fiquei irado de olhar as mesmas coisas uma e outra vez. Então eu achei uma boa ideia fazer uma coisa meio que piada/brincadeira disso, fazendo tudo o que eu achava repetido nos filmes.
CC: Por que um manifesto?
RP: Achei o formato de um manifesto interessante para minha ideia. Para começar, é uma lista de coisas que eu achei que não funcionavam na atualidade, depois tinha uma coisa meio como de revolução. Era compatível com o que eu pensava do projeto.
CC: Você se considera ou quer ser um revolucionário?
RP: Hahahaha. Não quero ser revolucionário, não. Quero fazer cinema mesmo.
CC: Você não acha que cinema é/pode ser uma revolução?
RP: Antes de pensar o cinema como uma revolução, tem que pensar o que você quer revolucionar.
CC: Como foi o processo de produção de “Pequeno Manifesto contra o Cinema Solene”? Quais as principais dificuldades e curiosidades?
RP: Na verdade, tive poucos problemas. Eu tive A IDEIA no final de abril, e o curta ficou terminado COMPLETAMENTE no final de novembro. Uma coisa MUITO rápida mesmo. O time era todo de amigos, também os atores, e a faculdade deu pra nós os equipamentos, então não posso dizer que foi difícil.
CC: Como foi a recepção de seu filme na mostra Cinéfondation, em Cannes, e em outros festivais? No começo você imaginava obter toda essa repercussão?
RP: Eu pensei que o filme não ia ficar em nenhum lugar, porque é uma piada das coisas que os festivais selecionam, então pensei que iam ficar irados. Foi uma magnífica surpresa como foi recebido. Todo mundo na projeção da Cinéfondation estava rindo, foi uma coisa incrível.
CC: Tanto em “Fábrica de Sonhos” como em “Pequeno Manifesto contra o Cinema Solene” você questiona o próprio cinema e a sociedade atual. Como você dialoga com esses temas na sua vida e nos seus trabalhos?
RP: Hahaha… Não sei se é tão assim. O que eu acho é que eu gosto de fazer coisas que partem de ideias. Não acho interessante contar uma história, mas contar uma ideia através de uma história. E, particularmente, acho que se você vai fazer um filme, a ideia tem que ser “fílmica”. Ou seja, não pode ser uma coisa que você pode pintar, ou fazer uma poesia ou um conto. Eu fiz poucas coisas (estou só começando a minha carreira), mas gosto de pensar que tudo o que eu fiz não poder ser feito em outro meio, só pode ser filme.
CC: Você faria algum trabalho de adaptação de um livro ou algo do tipo para um filme?
RP: Na verdade, sim. Eu leio muito muito. Sou mais leitor que cinéfilo. Gostaria muito de fazer uma adaptação.
CC: O que você pretende fazer em seus futuros trabalhos?
RP: Eu adoro curtas, acho que vou continuar fazendo, mas obviamente tenho pensado em começar a planejar meu longa. Mas, como ja falei, sou novo cineasta, então não quero desesperar, e quero fazer tudo no seu tempo.
CC: Algum conselho para novos cineastas ou jovens que estão começando a trabalhar no mercado audiovisual?
RP: Hahaha, eu sou um ninguém para dar conselhos, mas, se a gente pensa no meu manifesto, eu acho que a melhor coisa que eu posso dizer para alguém é que tem que fazer o que você gosta de fazer e não o que as pessoas gostam. Arte parte de si mesmo. Se gosta, bem, mas não tem que ser a ideia principal gostar. A ideia tem que ser que é real, genuíno.
(Guilherme Franco)