Um boneco desanimado
por Samuel Mariani –
A vida de um boneco de maquetes pode ser muito interessante, não somente por conta da originalidade das suas locações, mas também pela construção de um personagem “estrangeiro” neste mesmo mundo.
Acompanhando o boneco argentino Javier Juarez Garcia pelos stands de venda de apartamentos em São Paulo, é interessante imaginar o que está sendo vendido se não um personagem, um estilo de vida, uma história, um curta-metragem.
Bem assimilado dentro de um arco narrativo, Edifício Tatuapé Mahal se justifica pelo seu conceito, assim como cria um universo narrativo que está sempre se legitimando dentro do contexto do filme. Elementos de quadro e ângulos de câmera temáticos tratam elegantemente da “vida de merda” do boneco Javier dentro de um universo no qual o próprio processo de animação é muito meticuloso: ele estuda o tipo de movimento (ou ausência do mesmo) desses mesmos bonecos, compondo um ritmo bem específico.
A sincronia desses elementos, além de não deixar de trabalhar (e expandir) a narrativa no primeiro plano, trabalha seu tempo para que muitos dos payoffs do roteiro sejam resolvidos com humor.
No final das contas, o curta de Carolina Markowics e Fernanda Salloum dedica-se a uma história de bonecos com motivações bem humanas, e sua característica metafísica e justificativas bem ao estilo Starevich (Cameraman’s Revenge, 1912) geram uma animação brasileira de linguagem universal e bem sucedida.