Aquele cara que ia mudar o mundo
Aquele cara é o cearense Jonnata Doll. O próprio título do filme já revela muito sobre o que ele trata. Um documentário pautado na simplicidade de uma câmera filmando uma pessoa, sem grandes produções, sem mudar muito de locação, sem se preocupar em mostrar a vida ao redor dele. Simplesmente mostrando o cara. Ele e sua história de vida.
A autora que vos escreve tem um gosto pessoal por documentários que se limitam a mostrar alguém falando sobre sua vida. Ouvir uma pessoa contando algo é de uma riqueza incrível. Um relato é capaz de criar mil imagens na cabeça do espectador, que jamais poderiam ter sido captadas. Além disso, nesse caso, a escolha da simplicidade na maneira de filmar reflete a simplicidade de Jonnata Doll de falar da vida. O compositor e cantor fala de questões importantes e profundas com muita despretensão e bom humor. Suas letras são bastante críticas, falando de incoerências sociais, consumismo e drogas, entre outras questões que recebem menos atenção do que merecem.
Em seu discurso, Doll fala, à sua maneira informal e lânguida, de temas que dizem respeito à grande maioria dos jovens: sua relação com o amor, a religião e a música, sobre como se sente livre (e confere às drogas créditos por isso) e inadequado à sociedade por sentir-se assim. Com maior talento para escrever do que para cantar, o comportamento crítico e a relação íntima com as drogas, faz lembrar – com o perdão da blasfêmia aos que discordam – Cazuza.
A despretensão e simplicidade que o curta adota para abordar as inquietudes da juventude são enfatizadas pela escolha do local da entrevista, que se dá na maior parte do tempo, à beira do mar. Doll foi o caminho adotado por Dellani Lima para tratar desses assuntos, e atinge o público com seu jeito cativante e descontraído. Parece estar muito à vontade, frente ao oceano, que simboliza liberdade, longe das garras da leis e da hipocrisia. Nesse contexto, Jonnata Doll se põe como só mais um que tem inquietudes e reclamações a fazer, só um cara que poderia ser tantos outros que também andam pelas ruas de Fortaleza, de todo o Brasil e de todo o mundo.
Marina Moretti