Janelas sem paisagens: sobre o cinema universitário
por Giovanni Rizzo –
Sempre é muito interessante para um estudante de cinema como eu acompanhar a mostra Cinema em Curso dentro do festival, ver o que jovens pensam e fazem do cinema. No programa 1, porém, penso que o resultado não foi dos mais satisfatórios e parto do filme Janelas para exemplificar o que concluí daquele conjunto de curtas e do cinema universitário ali representado.
Janelas é um curta-metragem experimental, no qual o protagonista, Marcello, comunica-se com o mundo através de sua janela. Todavia, quando ela apresenta um defeito desta fica sem saber o que fazer de sua vida. A metáfora é a mais clara possível e também opera apenas no plano superficial da obra: aqui o principal é mostrar toda sua “experimentação”. Embalado por uma trilha sonora constituída de Giuseppe Verdi, a voz do Google tradutor e Jorge Ben, a película de Raphael Calheiros está mais preocupada em mostrar seus exageros com a fotografia, utilizando uma iluminação verde e vermelha, um ritmo até certo ponto incomum, onde o eixo está sempre sendo quebrado, e uma direção que a todo instante tenta romper com o tradicional e o esperado.
E se coloco experimentação entre aspas é porque não se vê nada de novo neste curta. Pode-se encontrar este estilo de fotografia, edição e direção em um filme quase nada experimental, mas sim videoclípitico dos anos 90: Assassinos por Natureza, de Oliver Stone. Contudo, no longa americano as cores estranhas da luz e o estilo da mise-en-scène refletiam os sentimentos e anseios dos personagens; aqui, nem isso.
Janelas é um filme que de certa forma fetichiza sua técnica, o fim está nele mesmo e em todos os seus recursos gráficos e estéticos, e em nenhum momento leva em consideração a relação da obra com seu espectador, não esclarecendo as possíveis ideias que esses recursos poderiam conter. Dessa maneira, o filme encerra-se no seu próprio prazer em experimentar – uma masturbação técnica –, fechando-se em si apenas pelo prazer próprio.
De que adianta uma radicalização formal, ainda que tecnicamente correta, sem um embasamento teórico, e talvez aqui seja um dos grandes problemas. O filme não tem um conteúdo que sustente suas extravagâncias formais. A metáfora do mundo com uma experiência mediada é atual e necessária, mas mal abordada, pois o curta trata seu conteúdo com superficialidade: não inclui novos pontos na discussão e tece uma metáfora simples e de fácil compreensão, que se esgota rapidamente.
Aqui poderíamos falar dos demais filmes do Cinema em Curso 1: Look Fashion Filme, Banzo ou Debaixo das Cerejeiras: todos dizem muito pouco, não são filmes que o espectador sai instigado a respeito dos questionamentos levantados na sala de cinema, ainda que possa ficar espantado com a qualidade técnica dos filmes universitários. Mas será mesmo que isso basta?
E verdade seja dita, há um intrigante curta no programa: Pequeno Objeto A, mas de vez em quando deve-se escancarar o que não funciona tão bem, para que essa produção seja discutida e sempre melhorada, já que o cinema em curso é uma amostra do futuro do audiovisual brasileiro. O que parece é que nas escolas de cinema, principalmente em São Paulo (digo isso pois faço parte de uma), há várias câmeras nas mãos dos novatos diretores, mas poucas ideias na cabeça.