A GIS

A marca da transfobia

Exibido na Mostra Brasil 5, “A Gis” é um documentário expositivo em que a narradora conta a história de Gisberta Salse Júnior, imigrante brasileira transexual, assassinada em Portugal, em 2006, e vítima de transfobia. O curta consiste em relatos de pessoas próximas a Gis: seus amigos, parentes, o bombeiro que fez o resgate de seu corpo, entre outros. Contrastando com as entrevistas, há também vídeos, músicas, montagens e detalhes que dão cor a uma história triste e que ocorre em todos os lugares.

Ilustra-se a vida de uma pessoa como outra qualquer: trabalhadora, próxima da família e dos amigos, e com uma casa, onde morava só. Porém, como o curta não possui uma linearidade, também sabemos que Gisberta sofria com o preconceito e buscava de alguma forma fugir disso, resultando em sua saída do Brasil. Porém, a LGBTfobia continuou a persegui-la e Gisberta não conseguiu emprego, tendo que se prostituir para pagar as contas e, por fim, contraiu o vírus HIV.

Na medida em que a narrativa evolui, ficamos cada vez mais íntimos de Gisberta, como se ela ainda estivesse ali, mais viva do que nunca. Os detalhes registrados na obra abrangem olhares, lágrimas, mãos e sorrisos dos entrevistados, provocando uma simbiose com espectadores, emocionando-os.

Momentos de respiro são as cenas de performances e shows de travestis, encerrando-se com uma música de Maria Bethânia, dedicada à Gisberta. O que faz com que o clima melancólico de relatos sobre sua vida se transforme também em algo alegre e por vezes até mais poético.

A brutalidade de seu assassinato foi algo que chocou tanto os brasileiros quanto os portugueses, fazendo com que houvesse uma mobilização social em torno do caso, até mesmo pela mídia, e trazendo consigo algo positivo: a amplificação das políticas de igualdade de gênero em Portugal. Isso provocou maior policiamento e debate sobre essas questões tão importantes na contemporaneidade.

O documentário explicita a essência da vida de Gisberta, com um olhar sensível, intimista e próximo do real ao se aprofundar em questões como sua relação com a família, seus anseios e sua humanidade, e ao fazer com que nos identifiquemos com seu cotidiano e ampliemos o olhar para a crítica em torno da transfobia vigente.

(Ana Luísa Pasin)

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