CAMINHO DE SEMPRE

Bem próximos da personagem

Exibido na sessão Oficinas Brasil, “Caminho de Sempre” explora a simplicidade para representar o medo das mulheres ao andar à noite. No filme de quatro minutos, muitas questões e assuntos pousam sobre as poucas cenas que se constroem num rápido clímax de tensão.

A violência, a falta de segurança nos locais públicos, a falta de iluminação e, claro, os altos índices de crimes contra mulheres, aliados a uma cultura machista que muitas vezes culpabiliza a mulher pelos assédios sofridos, criam o imaginário de quem assiste.

Dirigido por de Bruna Vieira e Sarah Corsi, o curta se aproveita de uma realidade social concreta para criar um enredo silencioso, que não necessita de explicações. O próprio público tira suas conclusões sobre a história. Tudo isso prova que há consciência da existência de um problema que precisa ser discutido e tratado.

O índice de feminicídios no Brasil ainda é um dos mais altos do mundo e os assédios contra as mulheres vêm sendo cada vez mais abordados e denunciados, principalmente graças ao movimento feminista, que cresceu nos últimos tempos.

A noite, o vazio e a figura não confiável do masculino servem como base para o cenário que envolve a protagonista. Ela não representa apenas ela mesma, mas muitas outras protagonistas mulheres que vivem naquela realidade.

O filme não necessitaria ser colocado no gênero ficção ou documentário, poderia ser os dois ou até mesmo nenhum. Provavelmente, a atriz poderia ser atriz naquele momento, representando o medo e tensão de uma personagem naquela

noite, mas nas demais noites, ela seria ela mesma, não representando mais ninguém, com o mesmo medo e a mesma tensão que a noite e o vazio das ruas proporcionam às mulheres.

O desafio e a coragem, muitas vezes vindas da necessidade condicionada e injusta da realidade, principalmente quando se trata de moradoras de periferia, são postos como um retrato no curta, em que somos colocados próximos, muito próximos, da personagem.

(Luiz Gonzaga de Souza)

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