Como superar a “dor do corte”

Ao ver o curta “O Estranho”, senti uma necessidade tremenda de voltar a uma crítica feita por mim nessa oficina ano passado (leia aqui). No texto, “Fantasia contra a solidão”, havia explanado sobre o excesso de seqüências sem diálogos e ação que não contribuíam muito para a narrativa e davam uma natureza mórbida a certos filmes.

Essa crítica criou uma pequena discussão nos comentários. Renata deixou uma questão muito interessante ao comentar meu texto e o que haviam dito sobre ele: “Há verborragia nas imagens também, ou não lemos imagens?”. Neste texto, concordo com o que disse Renata no ano passado. Lemos imagens, sim, e há verborragia nelas.

“O Estranho” é um filme sem falas, ou melhor, sem diálogos. As imagens a todo tempo nos dizem coisas e a sonorização do filme foi muito bem feita, ajudando na construção de uma obra rápida, que não necessita de palavras faladas para se auto-explicar, e que a todo o momento dá ao espectador informações visuais que facilitam a compreensão da história.

Esse filme me fez pensar na questão da “dor do corte”, que nada mais é do que a frustração de algumas vezes não poder usar imagens captadas nas filmagens, mesmo que sejam muito boas, pois elas não funcionam para que a obra possa contar bem a história a que se propôs. Sinto que essa “dor do corte” atrapalhe um pouco certos filmes, que têm histórias boas, mas pouco dinamismo.

“O Estranho” tem uma construção muito sólida e, mesmo sendo um filme ágil, os elementos estão bem colocados, tanto na questão de carga de sentimentos como na narrativa. A história segue sem que tenhamos que olhar para o lado e perguntar para o companheiro “por que aconteceu isso?”.  O grande mérito de “O Estranho” é saber suportar a “dor do corte”. (Henrique Gois de Melo)

“O Estranho” está na Mostra DF5.

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