DAMIANA

Quase como um vírus

Exibido na sessão de abertura do Festival de Curtas e programado na Mostra Latino-Americana 5, “Damiana” mostra a força que o cinema colombiano tem. É lento e deixa o espectador suspenso numa dúvida, desnorteado: o que está acontecendo, afinal?

A obra traz uma trama simples; são garotas num acampamento. Mas então, quando se entende o motivo pelo qual elas estão lá, alguma coisa quebra. Talvez a inocência aparente que é criada para elas? Ou o conceito de “inocência” que vai sendo deturpado aos poucos? Elas são meninas, seja lá o que fizeram ainda são crianças, e até que ponto uma atitude não é, na verdade, atravessada pela sociedade?

Falando em sociedade, é importante pensar na instituição social mais importante, que é a família. Em um mundo no qual valores estão sendo fragmentados, relações chamadas de líquidas, o sujeito entra em crise, mas e o papel da família nisso tudo? Assim como Damiana, nós esperamos.

Assim como Damiana, nós esperamos por um apoio. E, quando ele não vem, machuca.

“Eu tenho duas tetas. Uma com leite e outra com merda. E eu estou cansada de dar só leite pra vocês.” O filme é um aviso. De que sim, você é autossuficiente. Na real, é um soco na boca do estômago; se você não é autossuficiente, vai aprender a ser!

A linguagem transpassa um tom de que “algo de ruim vai acontecer”, marcado pela trilha do gênero de suspense. Mas, enquanto isso, o tempo das cenas é longo, sem muita ação; não prepara para esse soco. É um desfecho simplesmente opressor. Opressor no sentido de “caraca!”.

Dirigido por Andrés Ramírez Pulido, o filme é recheado de detalhezinhos: a pulseira para o pai, a falta de fome etc. “Damiana” toca em vários pontos de forma muito sutil. Questões que ganham força na contemporaneidade. Faz refletir até mesmo no limite entre chamar a atenção e um gesto que pede ajuda. Essa é uma obra que entra quase que como um vírus na nossa subjetividade.

(Cauê Vinicius)

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