Terreno onírico
O Castelo, do premiado diretor Rodrigo Grota, com certeza será um dos curtas mais comentados do festival pela qualidade e consistência do trabalho.
O curta flerta com o universo fantástico e de terror. Cinco amigos vão passar o dia em uma floresta, em tempo e local não definidos. O mais tímido da turma, o deslocado Rafael, ao sair de um mergulho na cachoeira se vê sozinho no local e situações estranhas começam a acontecer quando ele encontra uma casa (na verdade, um castelo) abandonado.
Em um primeiro momento pode parecer uma aproximação com A Bruxa de Blair pelos mistérios de um local inóspito. Entretanto o curta flerta mesmo é com o universo fantástico e simbólico de Lars von Trier como em Anticristo, ao apresentar elementos como a natureza como força primordial, mística, cheia de segredos que não devem ser desvendados – tal como Rafael diz em sua única fala do filme, “é um segredo”.
E principalmente com O Iluminado, de Stanley Kubrick. A cena inicial em um plano aberto com pinheiros muito altos em fileira tendo o personagem posicionado ao centro remete ao longa do diretor norte-americano pela cor do céu, pela sensação de solidão e pelo silêncio imposto. A casa/castelo assemelha-se ao hotel de Jack Torrence no estilo arquitetônico de montanhas. Em duas cenas, Rafael mira a imensa fotografia daquele espaço em preto e branco. Um tempo congelado, como a própria casa, abandonada de vida terrena, mas com uma força estranha como em O Iluminado. Os cortes secos na imagem como acontece no longa, blackouts do personagem em sonho, transição para situações de terror. Em uma das cenas, o personagem vê seu amigo morto no chão de um dos cômodos, uma cena filmada em vermelho intenso, um sangue que remete ao sangue que inunda o corredor do hotel de Kubrick.
O personagem Rafael, quieto, é um ótimo observador e ouvinte, está a toda hora com seu gravador vintage e sua câmera fotográfica. Não para menos, os trabalhos de Rodrigo Grota possuem notadamente uma preocupação com a fotografia e o som, fazendo deles quase personagens de suas histórias. Nesse curta o som tem destaque preponderante ao dar o tom da história, ao revelar sons não cotidianos, dar voz ao mistério. A fotografia também impressiona com cores vibrantes lavadas, o que cria uma atmosfera de falsa leveza, onírica.
Esteticamente belo e perturbadoramente inquietante, O Castelo é um excelente trabalho de experimentação narrativa e visual.
Malu Andrade