Amor próprio

guida

por Andréia Figueiredo

O Panorama Paulista 2 com toda a certeza foi uma experiência inesquecível. Saí da sessão ansiando por mais. Por mais do mesmo e mais de obras incríveis e cativantes que te encantam daquele modo sutil. O meu favorito foi o Guida, que pelas palavras da diretora Rosana Urbes, se trata de “uma homenagem a tudo que é velho”. E assim com essa citação, é que passamos a entender mais sobre a história.

O curta-metragem é todo feito pela técnica tradicional de animação em 2D e cria ambientes com formas harmoniosas, belas e verdadeiras, que insere automaticamente o espectador nesse novo universo. A história gira em torno da personagem Guida, uma mulher mais velha e com algumas rugas, que tem uma vida cômoda e sem grandes emoções, vivendo em uma eterna rotina como arquivista há 30 anos. Porém, isso muda ao encontrar um anúncio de jornal que diz que se procura modelos vivos para posar, fazendo-a se interessar.

A poesia do roteiro está inteiramente na procura do que nos motiva, inspira e faz com que nos sintamos vivos. No começo do filme, fica claro que a personagem não se sente bem com o que vê no espelho, simplesmente não aceita que os anos passaram e que sua juventude se foi, o que nos é mostrado quando se recorda de sua aparência quando jovem. Ao ter a iniciativa de posar como modelo vivo, tendo que estar completamente nua, Guida acaba por se libertar de seus medos. Isso nos faz refletir sobre o papel da arte como meio de expressão artística do indivíduo e sua importância para o mundo.

Trata-se definitivamente de uma história de amor. Além disso, da certeza que não importa a idade, o que aconteceu e o que ainda tem a acontecer, a vida está constantemente se renovando. Frequentemente não percebemos as oportunidades que nos rodeiam com o único objetivo de adquirir qualquer forma de crescimento. Guida retrata a beleza da velhice e a mais antiga e complicada história de amor: o amor que envolve amar a si mesmo.

Guida está na mostra Panorama Paulista 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2014

Criador e criatura

fuga animada1

por Valéria Tedesco

Cento e oitenta segundos. Esse é o tempo que Augusto Roque utiliza para apresentar, desenvolver e criar o percurso de personagem do protagonista de seu filme, Fuga Animada. Um pequeno boneco fugitivo que trava, através de diferentes técnicas de animação, uma briga por espaço com os traços que o criaram.

A proposta apresentada pelo curta cria uma discussão em trono da relação entre criador e criatura. A mão que desenha, define a forma, também é a mão que dita os espaços. Utilizando as bordas da folha como o limite para o universo fantasia daquele desenho, delimita o controle sobre sua obra. O criador nesse momento, mantem o papel de detentor dos direitos sobre aquilo que idealizou.

Por outro lado, a obra como criatura, procura pertencer a outros espaços. Nesse momento começa a perseguição e a tentativa de definir quem pode, e quem consegue manter a voz ativa no processo. Quem criou ou a obra que, depois de feita, pode tomar caminhos diferentes daqueles que foram inicialmente propostos. O que entra em jogo não é apenas o desenho em si, mas sua representação e reflexão em outras plataformas.

Por fim, ambos voltam a frequentar o mesmo espaço e, entrando pelo mesmo lugar que saiu, o desenho utiliza a mão, o braço e o corpo de seu criador para reorganizar e juntar novamente os dois mundos. A obra continua sendo de quem a criou, mas quem a criou definitivamente não continua sendo o mesmo.

Fuga Animada está na Mostra Brasil 4. Clique aqui e confira a programação do filme no Festival de Curtas 2014

Paraíso de água

cloro

por Andréia Figueiredo

Uma luz cegante! É assim que começa um dos estreantes do 25º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, Cloro, do diretor Marcelo Grabowsky. A luz, logo descobrimos que se trata do sol e que agora, pensando, certamente é um dos personagens principais dessa história, já que grande parte do roteiro é gravado sob a forte e constante luz solar, que cega o espectador logo no início.

Um fato interessante é que o enredo se passa em uma casa de luxo e em seu quintal, onde há uma piscina. Podemos ver a casa mas não podemos entrar, essa é a sensação que tive, já que nem mesmo a câmera chega à penetrar na residência, dando a entender que há mais coisas que acontecem ali dentro do que sabemos. A piscina é outro personagem, já que os conflitos ocorrem não somente ao seu redor, mas dentro dela também.

O filme gira em torno de uma garota que acabara de completar seus 15 anos e vive em sua luxuosa casa, cercada de regalias e empregados. Só que por trás de todo esse belo cenário, há uma família em crise e dois filhos afetados pelo relacionamento dos pais. Uma das mais belas cenas é quando a Clara, a irmã mais velha, põe-se a descobrir o que há de errado com o caçula, que não diz nada, apenas faz um leve gesto com a cabeça indicando a discussão dos pais. Palavras não são necessárias.

Fica evidente que Clara, a personagem principal, está passando por uma fase de mudanças, de questionamentos e desejos. É possível perceber a ausência e a falta de interesse dos pais de Clara por ela, tendo como base para isso o descaso da mãe, que toma seu banho de sol, quando a filha chega da escola. Além disso, nos é mostrado os fortes desejos que a personagem sente pelo novo empregado da casa, fantasiando com ele momentos íntimos em seus momentos de ócio.

Cloro definitivamente é um filme que tenho que parar e refletir mais um pouco a seu respeito para, em seguida, assisti-lo novamente. Isso porque é um curta metragem que nos prende do começo ao fim, enquanto nosso cérebro tenta entender qual é o próximo passo. O desfecho continua uma grande incógnita para mim, pois é difícil imaginar qual é a cena que se sucede à final. A minha dica é que vocês assistam ao curta, pensem e reflitam. Só sei que eu farei o mesmo nos próximos dias.

Cloro está na Mostra Brasil 4. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2014

Vem aí o Crítica Curta 2014

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Estamos a uma semana do começo do 25º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. E como acontece em todos os anos desde 2005, a oficina Crítica Curta convida alunos de audiovisual a produzir reflexão em texto sobre os filmes exibidos no festival. A orientação e coordenação do projeto neste ano fica novamente a cargo do crítico de cinema e pesquisador Heitor Augusto.

Assim como no ano passado, este blog volta a ser o espaço de publicação dos artigos, apostando que a publicação no ambiente virtual permite mas possibilidades de circulação dos textos e diálogos com os leitores – realizadores e público em geral. Os participantes da oficina terão a responsabilidade de assistir diversas sessões que compõem o cardápio do festival. Suas reflexões estarão concentradas nos curtas das mostras Brasil, Panorama Paulista, Cinema em Curso e Latino-americana.

O blog Crítica Curta terá posts diários, escritos pelos “calouros” (que participam da oficina pela primeira vez) e “veteranos” (que já compuseram o projeto no ano passado e são convidados a retornarem). Você pode acompanhar as atualizações pelas redes sociais, seguindo o Twitter da Kinoforum [clique aqui] e curtindo a página do Facebook [clique aqui]. No topo de cada post no blog você encontrará um botão para compartilhar os textos.

A navegação é simples: na parte superior da home page estão os posts mais recentes. Do lado direito da metade inferior da home você poderá procurar por textos usando tags (nome do filme, nome do diretor, nome do autor, tema do curta etc). À direita de cada página há a nuvem de tags, que aponta os tópicos mais comentados nos textos.

Abaixo está a lista dos calouros que participam da oficina neste ano:

Amanda Martinez (FAAP)
Andreia Saracchi Figueiredo (Cásper Líbero)
Arthur Ivo (Unicamp)
Beatriz Couto (FAAP)
Beatriz Modenese (Cásper Líbero)
Bianca Elias Mafra (Senac)
Camila Fávaro (FAAP)
João Gabriel Vilar Cruz (Senac)
Lucas Navarro (FAAP)
Mylena Santos Dantas (Cásper Líbero)
Pither de Almeida Lopes (Anhembi)
Plínio Chaparin (ECA-USP)
Samuel Baptista Mariani (Unicamp)
Thiago Zygband (Unicamp)
Valeria Tedesco (Senac)

Sejam bem-vindos!