A força da mulher

a mulher quebrada la mujer rota

O que mais me prendeu a atenção nesses dias de festival foi a representação das mulheres nas diferentes culturas que o integraram.

Logo na minha primeira sessão, latino-americana, me deparei com Solecito, de Oscar Ruiz Navia, da Colômbia. Estrelado por dois jovens selecionados em um casting em um colégio público, o curta-metragem traz a história de um amor inocente. Uma garota marcante tanto pelos piercings e acessórios como pela sua forte personalidade; segura de si, corajosa e que, através de um ótimo diálogo, regado de doses certas de inocência e malícia de ambos os personagens, nos revela uma mulher que no fim, acredita e aposta no amor. Como todas nós. A fotografia é impecável, e as tremidas de uma câmera na mão podem parecer inexperiência de início mas, a mim, caíram como uma luva à inexperiência dos personagens que vivem pela primeira vez uma história de amor.

As mostras brasileiras também trouxeram mulheres que valêm ser lembradas. O que lembro, tenho de Rafhael Barbosa (Alagoas) traz a temática da doença de Alzheimer representada por duas mulheres de muita força. O ambiente é de uma família muito simples, que vivia no interior, uma mãe criando dois filhos sozinha. Com a idade, veio o Alzheimer e a filha é quem passa a cuidar da mãe por toda a sua vida. A fotografia e o modo como esse tema tão triste foi abordado são muito delicadas; as personagens, apesar do sofrimento, me passaram uma profunda paz interior e algo que poderia trazer uma carga emocional forte e pesada é retratado com extrema sutileza.

Da Suécia veio a história de uma mãe solteira e cheia de desejos. Game, de Ylva Forner, se passa na sala de estar de Elizabeth, uma mãe que volta de um encontro ruim e se depara com Adam, amigo de seu filho adolescente, jogando videogame na sala. O garoto não parece se constranger muito com a situação e convida Elisabeth para o jogo, que primeiramente recusa, mas se deixa levar pela inocência da situação e termina por aceitar. Os dois passam a se divertir, ao mesmo passo que o desejo nos olhos de cada um vai surgindo. O diálogo entre eles começa banal, evolui e os aproxima cada vez mais. Uma belíssima fotografia e ótimas atuações nos levam ao mundo de cada uma das personagens; Elizabeth vê em Adam um mundo onde suas preocupações não existem, a juventude. Adam projeta em Elizabeth a experiência, o amadurecimento.

Outro forte retrato cultural da mulher foi abordado em Mais de duas horas (Bishtar az do saat), de Ali Asgari, do Irã. Porém, essa que poderia ter sido uma narrativa forte e emocionalmente intensa, se perdeu nas linhas de um roteiro fraco. Um casal de namorados infringe as leis religiosas de sua sociedade e pratica o sexo antes do casamento. Por problemas de saúde, o casal passa a noite atrás de um hospital que aceite tratar da mulher sem que ela apresente certidão de casamento. Sem encontrar outra saída, a mulher aparentemente se suicida. O curta não me agradou, vi nele uma fotografia despreocupada, diálogos que não se aprofundam muito e uma abordagem muito vazia de um tema que traz tanta carga emocional na bagagem.

Do Uruguai veio um dos melhores curtas que assisti nesta edição do Festival. A Mulher Quebrada (La Mujer Rota), de Jeremias Segovia, combina tudo que uma boa ficção deve ter. De início uma mulher gravemente ferida chega a um prédio e pega o elevador. Todo em preto e branco, e trabalhando muito bem os elementos de luz e sombra que essa técnica proporciona, sua viagem até o sexto andar é o ponto de partida de um suspense conduzido pelo olhar da câmera, e que aos poucos revela detalhes dos seus ferimentos e direciona o espectador à decifrar o que pode ter acontecido com essa mulher.

Um senhor entra no elevador e, em um timing perfeito, revela-se que este, que aparentemente iria se deparar com uma mulher coberta de ferimentos, é cego. E daí começam a surgir os componentes cômicos da narrativa, em meio a todo o suspense. O desfecho segue os mesmos passos; a mulher entra em um apartamento e o olhar da câmera continua a nos conduzir à descoberta do que aconteceu alí, em meio a um ótimo jogo entre a direção de arte e a fotografia. O fim traz uma dose certa de comicidade e, para mim, uma metáfora à força, determinação e inocência da mulher.

Julia Lacerda

Quatro filmes em um

amor cru

Minhas hipóteses sobre Amor Cru (Amor Crudo) são quatro: ou o filme tem um esquema complexo de narração que alterna memória (ou fabulação) e realidade; ou os dois meninos estavam namorando e um deles não sabia; ou então o menino mais novo levou o fora mais cretino da história e nem ligou; ou na Argentina é perfeitamente casual amigos heterossexuais dormirem juntos na mesma cama, tomarem banho juntos e masturbarem um ao outro.

A última hipótese me parece a que melhor dá conta do filme. Nesse caso, o filme é uma investigação antropológica a respeito das formas de sexualidade entre jovens argentinos: dois rapazes obtém prazer sexual um com o outro enquanto não iniciam sua vida afetiva. Isso significaria que a sociedade argentina alcançou um grau de liberdade sexual em que o prazer sai da esfera privada da relação íntima do casal e atinge uma esfera de descoberta coletiva. Sob esse prisma, o filme é sobre a incongruência dos desejos de dois rapazes: um que quer curtir e o outro que quer namorar.

Talvez o filme seja justamente sobre esse menino homossexual que aprende a se libertar de valores afetivos tradicionais. Diante da impossibilidade de concretizar a relação com seu amigo, ele precisará aprender a lidar com a inexorabilidade da vida e das relações humanas. O filme seria, então, a narrativa da frustração afetiva desse menino, a qual seria um passo em seu amadurecimento pessoal. O filme marca essa transição associando-a diretamente com o fim das aulas e o início do verão (esse horizonte desconhecido, onde o grupo de amigos pode continuar unido ou não). O menino seria, assim, um herói lunar, que conquista a felicidade assumindo uma postura resignada diante do obstáculo. É uma perspectiva que se opõe ao herói solar, estandarte masculino de um cinema narrativo clássico, e adere a um grupo de valores mais intimistas e femininos.

A bem da verdade, não acredito em nada disso. Acredito que se trata de um filme “ruim”, cuja narrativa é atravancada e cujos signos não convergem, e ponto final. Mas resolvi deixar de lado a crítica autoritária e cedi à postura de crítico generoso. Afinal, ‘gays’ é um tema tão em voga hoje em dia, e alguma discussão o filme suscita. Respostas? Nenhuma.

João Pedone

Amor Cru está na Mostra Libercine. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013

Testemunhando o Assassinato em Junín

assassinato em junin

O curta-metragem Assassinato em Junín alimenta uma discussão interessante sobre o olhar cinematográfico e toda a experiência de assistir a um filme. O público, inconscientemente ou não, já está acostumado a ter sua percepção narrativa conduzida pela montagem – que, por sua vez, segue os direcionamentos do diretor. Eis que Andrew Sala, diretor do curta em questão, oferece-nos algo fora do usual: um enquadramento aberto de uma paisagem, que se trata também de um plano-sequência estático e, nos segundos iniciais, sem registrar nenhuma ação aparente.

Essa opção estilística faz toda a diferença, na medida em que envolve o espectador de uma maneira singular: logo no começo, vem a agonia de não saber para onde olhar, onde a ação vai ocorrer. Quando a narrativa começa a se desenrolar de fato, seu ritmo é relativamente lento, especialmente por se tratar de um plano sem cortes e ocorrerem várias pausas entre as ações das personagens. Aliada ao posicionamento de câmera, essa lentidão nos aproxima da história, como se estivéssemos fisicamente presentes no local em que ela se passa.

Mais do que um mero observador ou voyeur, o espectador se torna testemunha dos eventos apresentados – entre eles, o assassinato que dá nome ao filme. Tal como se presenciasse as cenas na vida real (logo, fora de um contexto específico), o espectador nada sabe além do que vê, e justamente por isso tenta captar o máximo de detalhes, a fim de lhes atribuir sentido. Podemos ver maiores detalhes sobre a construção de um ponto de vista próprio no documentário Janela Da Alma, que explora o conceito de visão de diferentes formas.

A aflição de ficar com o olhar perdido pela tela, no começo do curta, é substituída nos momentos finais por uma ávida curiosidade a respeito do que não está sendo mostrado. É até divertida a inquietude gerada pela vontade de olhar além: é como se o diretor segurasse seu pescoço e te impedisse de ver – e, justamente por isso, tem-se a impressão de que há algo importante sendo ocultado. Essa curiosidade se intensifica, ainda, quando nos é revelado o porquê do posicionamento de câmera escolhido. Irreverente em seus aspectos formais, Assassinato em Junín desperta sensações variadas no espectador, tornando a experiência de assisti-lo memorável e estimulante.

Letícia Fudissaku

Assassinato em Junín está na Mostra Latino-americana 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013

Da posição do espectador

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Se um filme é uma obra que só se completa no momento de sua exibição para uma audiência, o maior feito de Assassinato em Junín (Asesinato en Junín), curta argentino do diretor Andrew Sala, é fazer o espectador tomar parte na realização desse processo, de forma consciente.

Numa única tomada, o espectador presencia a morte de uma moça por dois rapazes, em meio a um descampado. Nada se sabe sobre os personagens em cena, nem tampouco suas motivações. Entendemos apenas que a menina assassinada estava a espera de um terceiro homem, com quem planejava fugir.

Aqui, Sala opta por um quadro fixo numa paisagem estática e vazia, o que permite que toda a nossa atenção se volte para a movimentação dos personagens em cena. Desse modo, o diretor obriga seu espectador a se reconhecer como tal. Quando todo nosso interesse é voltado para um único foco de ação, sem distrações, ou cortes para outros planos, a experiência que se tem é a mesma de observar a vida de outras pessoas através de uma janela. Sendo assim, o espectador se torna um invasor, alguém cuja curiosidade mórbida o obriga a assistir a vida alheia, em seu evento mais trágico.

Até então, não há nada de inovador, uma vez que já nos vimos nessa posição antes. Basta lembrar de James Stewart em Janela Indiscreta, cujo personagem de um fotógrafo interessado na vida de seus vizinhos personificava em tela a posição do espectador. A diferença é que se na produção de Hitchcock o espectador se via representado numa terceira pessoa, através do personagem de Stewart, aqui esse autorreconhecimento vem em primeira pessoa, quando assumimos a perspectiva da câmera e, dessa perspectiva, nos inserimos na ação.

O que, de fato, dá forças ao filme e o torna primoroso é o respeito do cineasta pelo tempo da ação. Ao abrir mão de artifícios de montagem, como elipses temporais e dramáticas, ou, até mesmo, de cortes para planos mais fechados, Sala assume uma proposta muito honesta de realização que, para além de seu efeito estético, se mostra preocupada em estabelecer uma relação entre o espectador e os eventos presentes em cena. A mágica do cinema não está presente aqui. Todos os truques são suprimidos e dão lugar a um discurso sobre a autenticidade do papel desempenhado pelo espectador que, acostumado a se deixar enganar e fazer-se omisso em sua observação, é, agora, obrigado a se assumir e tomar parte no processo. Até mesmo o travelling, que ocorre nos momentos finais do filme, assume-se dentro da mise-en-scène, partindo de dentro de um carro em movimento.

Com esse trabalho, Andrew Sala monta um inteligente discurso sobre o papel do público na realização de uma obra cinematográfica sem que, com isso, se torne enfadonho ou cansativo. Muito pelo contrário, ele sadicamente entretém sua audiência, despertando uma curiosidade que se revela condenável.

Matheus Rego

Assassinato em Junín está na Mostra Latino-americana 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013

O sujeito e a indiferença

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Adolfo, cinquentão, robusto e mal acabado. A filha sofre doente na casa da mãe e ele está impedido de vê-la. Precisa pagar a pensão atrasada da menina, mas o curto salário que ganha como operário só chega no início do mês seguinte. A senhoria lhe cobra o aluguel de um quarto precário no centro da cidade. Ela ameaça expulsá-lo.

Eis que nos aproximamos do sujeito que, diariamente, dá com a cara no cimento. Um sofrido retrato do operário civil – um homem ordinário e desgraçado, cujo ambiente moderno deu conta de transformá-lo em adereço de sua paisagem. Não mais um indivíduo, apenas uma fonte de força e capacidade de trabalho.

Não à toa, De Cara no Cimento (De Cara al Cemento), título dessa produção chilena do estreante Ignácio Pavéz, remete ao tema de uma obra de Charles Baudelaire, intitulada A Perda da Auréola.

Em Baudelaire temos o poeta que vê sua aura artística, fundada na individualidade, se perder em meio a um lamaçal de macadame – símbolo máximo do progresso e da modernização do espaço urbano. No curta de Pavéz o macadame dá lugar ao cimento das construções onde Adolfo trabalha. É ali que nosso protagonista vê sua individualidade desaparecer dia após dia, dando lugar a prédios e muros de concreto.

A perda da individualidade aqui, porém, não passa de subtexto – algo implícito à narrativa. É o tema do curta, por outro lado, que dá conta de narrar um homem inserido num espaço urbano kafkiano, repleto de burocracias e teias sociais que o impedem de levar uma vida digna e plena. Tal fato é bem ilustrado na sequência em que Adolfo acaba de receber seu pagamento, mas uma série de eventos impede que o dinheiro chegue aos cuidados de sua filha.

De Cara no Cimento se destaca em meio a alguns de seus pares latinos principalmente pela dedicação de seu realizador no que concerne ao desenvolvimento da narrativa. Ao longo de seus 24 minutos o curta se preocupa em aproximar o espectador de seu protagonista através de cenas que refletem um sujeito desgastado pela indiferença do universo à sua volta. Tanto mais, a atuação do ótimo Daniel Antivilo fortalece essa relação de empatia gerada no público.

De grande valor social ao sugerir o cenário urbano como um espaço de descaso e indiferença, e tocante ao retratar um homem incapacitado de cuidar da própria filha, De Cara no Cimento representa uma ótima estreia de Ignácio Pávez à frente de um curta-metragem.

Matheus Rego

De Cara no Cimento está na Mostra Latino-americana 2. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013

Uma quase morte

memento mori

Memento Mori, avisa o título. “Lembre-se da morte”, é o que quer dizer. A expressão latina, uma das divisas da literatura barroca, ecoa nessa animação coproduzida entre Bolívia e Bélgica, mantendo algumas conexões com o momento histórico em que a arte primou por lidar com fenômenos contraditórios.

Quem esperaria flertar com a própria extinção por meio da dança? Intercalar situações monocromáticas com banhos lisérgicos da cor? Sim, estamos diante de uma caixa de surpresas. Poderia predominar o tom sombrio, de escritores românticos ou expressionistas, que de fato existe aqui. Mas nos vemos diante de uma forma de expressão mais mística do que necessariamente fantasmagórica.

A menina (que guarda em si uma imagem infantil de certa forma localizada entre o século XIX e a primeira metade do XX, imagem que tem como maior exemplo, talvez, a Alice de Lewis Carroll) que executa a passagem “transcendental’ em que pode-se, em um momento acreditar estar num sonho, em outro vendo um funeral é recepcionada por uma entidade mágica, com uma aparência exótica, “étnica”, algo africana. Uma dança, em que se libertam corpos e almas.

Coreografia de movimentos que se interrompem e sobrepõem, num fluxo capaz de evocar sim algo muito caro ao imaginário cultural latino-americano: os rituais xamânicos do(s) mundo(s) possivelmente existente(s) no limiar entre matéria e abstração.

Bad trip? Vez por outra é evocada, mas não permanece. Experiência de quase morte, que eventualmente se conclui? Hipótese a se considerar, mas também reducionista. Algo que chama a morte pra exercitar a ideia de ressurreição. Lembrar da morte para viver algo de onírico. Afinal, Memento Mori.

Rafael Marcelino

Memento Mori está na Mostra Latino-americana 1. Clique aqui e veja a programação do filme no Festival de Curtas 2013

Quem faz o Crítica Curta

audiencia de cinema

Neste ano o Crítica Curta, oficina de crítica cinematográfica que acontece desde 2005 durante o Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, terá a participação de 30 estudantes de audiovisual vindos de nove escolas.

Os participantes têm a missão de assistir a diversas sessões da programação do festival e produzir textos críticos sobre os filmes. Os veteranos que participaram do projeto no ano anterior são convidados a retornar ao Blog Crítica Curta. A orientação e coordenação da oficina em 2013 é do crítico de cinema Heitor Augusto.

Veja abaixo a lista de participantes:

Belisa Marques de Lima (Senac)
Bruno Marra (Senac)
Camila Fink (PUC)
Ivan Ribeiro (ELCV Santo André)
João Pedone (ECA-USP)
Leonard Gonçalves de Almeida (ELCV Santo André)
Nicolle Reuter (FAAP)
Peri Semmelmann ELCV Santo André
Rafael Marcelino
Alice Mayumi Tsukamoto (Cásper Líbero)
Letícia Fudissaku (Cásper Líbero)
Mariana Vieira Gregório (ECA-USP)
Kleber Franzoso de Oliveira (ELCV Santo André)
Tadeu (ELCV Santo André)
Matheus Rego (FAAP)
Thiago Garcia (FAAP)
Julia Lacerda (PUC)
Nicolie Amphiprion (PUC)
Thais Andrade (PUC)
Beatriz Moura (Senac)
Raquel Arriola (Senac)
Henrique Rodrigues Marques (UFSCar)
Carol Neumann (Unicamp)
Pablo Gea (Unicamp)
Rodrigo Faustini (Unicamp)
Ricardo Corsetti (Anhembi)
Erico Botelho (Anhembi)
Malu Andrade
Daniel Simião (Metodista)
Guilherme Savioli (ECA-USP)

Novidades do Crítica Curta 2013

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Estamos a uma semana do começo do 24º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. E como acontece em todos os anos desde 2005, a oficina Crítica Curta convida alunos de audiovisual a produzir reflexão em texto sobre os filmes exibidos no festival.

Em 2013, o projeto terá algumas novidades. A começar pelo espaço de publicação dos textos. Até a edição passada, os calouros da oficina tinham suas críticas publicadas num tabloide impresso distribuído gratuitamente no último dia de festival. O Blog Crítica Curta era destinado apenas aos veteranos de oficina, convidados no ano seguinte a continuar escrevendo.

Essa dinâmica será alterada. O Blog Crítica Curta torna-se o espaço exclusivo da oficina. Os textos de calouros e veteranos estarão integrados, encontrando maior possibilidade de circulação e diálogo com os leitores – realizadores e público em geral – por meio do ambiente virtual. Os participantes da oficina terão a responsabilidade de assistir diversas sessões que compõem o cardápio do festival. Suas reflexões estarão concentradas nos curtas das mostras Brasil, Panorama Paulista, Latino-americana e KinoOikos.

O Blog terá posts diários. Você pode acompanhar as atualizações pelas redes sociais, seguindo o Twitter da Kinoforum [clique aqui] e curtindo a página do Facebook [clique aqui]. No topo de cada post no Blog você encontrará um botão para compartilhar os textos.

A navegação é simples: na parte superior da home page estão os posts mais recentes. Do lado direito da metade inferior da home você poderá procurar por textos usando tags (nome do filme, nome do diretor, nome do autor, tema do curta etc). À direita de cada página há a nuvem de tags, que aponta os tópicos mais comentados nos textos.

Outra mudança está na coordenação, exercida pelo crítico de cinema Sérgio Rizzo desde a criação da oficina. A partir de 2013, o também crítico Heitor Augusto assume a edição do Crítica Curta.

Nossa missão será manter a qualidade dos anos anteriores e continuar a tradição do Crítica Curta como um espaço para reflexão e troca de ideias.

Sejam bem-vindos!

Heitor Augusto

Aqui, o jornal da edição 2012

Na edição de 2012, os participantes da oficina Crítica Curta foram convidados a redigir textos críticos sobre os filmes apresentados no Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. O resultado foi a publicação de um tabloide, distribuído ao final do evento.

Ao todo 20 alunos de oito escolas de audiovisual escreveram sobre os curtas exibidos na Mostra Brasil, Panorama Paulista, Mostra Latino-americana, Oficinas Kinoforum e Mostra KinoOikos. Para baixar o tabloide, clique aqui.

Como revela a leitura dos 51 textos publicados nesta edição, esses jovens têm em comum apenas a faixa etária e o interesse em se dedicar à mesma área de atuação profissional. Suas ideias em relação ao cinema – e, em recorte mais amplo, ao audiovisual contemporâneo – são muito distintas. Tamanha diversidade possibilita compreender um pouco melhor as principais tendências de pensamento hoje em circula-ção nas escolas paulistas de audiovisual e, possivelmente, alguns dos valores políticos e estéticos mais próximos à geração que começa a chegar ao cenário da produção.

Boa leitura!

(Sergio Rizzo)

Pausas, movimentos e sorrisos

A Garota Má (La Niña Mala), de Jorge de León Amador, mostra um pequeno fragmento na vida de uma garota e das pessoas que a rodeiam. O filme me pareceu estar sendo apresentado como um documentário: a menina olhando para câmera, a composição das texturas no cenário, os enquadramentos diretos. O tempo das ações.

Com essa primeira conexão, o diretor deslocou a minha posição de observadora da situação para colocar-me como ouvinte da história que a garota iria contar. Sinto que fui pega pela mão e jogada com muita sensibilidade e artimanha para dentro da obra. Aos poucos, Jorge começa a alterar a temporalidade da captação, o que provocou em mim um recondicionamento de olhar dentro da própria obra, por um recurso de linguagem.

No filme, há a mão, muito presente, do autor. Não vejo que está simplesmente sendo contada uma história, ou revelada uma idéia. Acredito que nas suas escolhas, começando pelo tempo dos planos, o diretor tenha conquistado algo raro e, na minha opinião, tão necessário: uma autoralidade bastante radical. Ele parece ter tomado todas as decisões e feito todos os cortes necessários para revelar a essência da sua personagem.

O filme é repleto de momentos indizíveis. O olhar das mulheres que dançam é profundo e completamente contraditório com os seus corpos. Esses mesmos olhares re-significam o olhar da garota. A garota e sua maldade são contados para o espectador por vias indiretas: pelo tempo das pausas, pelos movimentos das outras mulheres e pelo seu sorriso. (Carolina Sudati)

A Garota Má está na Mostra Latino-Americana 3. Clique aqui para ver as sessões do filme