CENTAURO

Temática curiosa, estética vazia

 

“Centauro”, curta-metragem argentino exibido na Mostra Latino-Americana 1, certamente tem ideias promissoras no papel, e apenas isso, posto que sua execução acabe sendo um tanto equivocada para um espaço de tempo tão curto. Não que sua história, escrita pelo próprio diretor, Nicolás Suárez, seja das mais ambiciosas ou originais, ao acompanhar um jovem gaúcho (seu nome não é revelado) cruzando uma região rural da Argentina em busca de um cavalo de rodeio conhecido pela criatura mitológica do título, depois que uma tragédia pessoal o leva a essa busca.

Se, no roteiro, pode-se ter uma noção da temática que busca, Suárez acaba por tomar decisões que mais soam como autoindulgências de alguém que busca se destacar de alguma maneira do que indícios de coesão narrativa madura, com instantes que levam ao estranhamento (mas não no bom sentido), como a batalha “musical” entre o gaúcho e outro sujeito num bar.

E, se a utilização de imagens não-diegéticas de pinturas de centauros, no começo do filme, mostra-se interessante, há redundância ao mostrar um determinado objeto que é revelado novamente pelo personagem na cena seguinte, como se o diretor não confiasse no público em relação à boa reviravolta que a obra podia trazer em seu clímax.

Para piorar, nem mesmo o desempenho do ator Agustín Alcides Otero traz um mínimo de intensidade ou complexidade a um personagem que, teoricamente, tem uma motivação emotiva na obra, tornando-se vazio em meio à emoção de suas atitudes.

“Centauro” beneficia-se ao menos da boa fotografia de Federico Lastra, que explora bem o ambiente rural da cidade retratada, e traz em seu clímax um principio de reflexão sobre a eterna relação filosófica entre homem e animal, o que traz nova interpretação do título da obra. Mas, pela execução pobre de seu diretor, o filme resume-se a uma temática curiosa em meio a uma estética vazia, ainda mais com seu desnecessário interlúdio no final.

(Marcelo Carvalho)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *