CÉSIO, O CAMALEÃO

Cócegas na ferida

Por que colocaram esse filme no festival?

Foi a primeira coisa que pensei, logo quado comecei a assistir ao curta “Césio, o Camaleão”, realizado por alunos do Estúdio Escola de Animação e exibido no programa Oficinas Brasil. Eu não colocava fé nenhuma no Césio. [Inclusive, genial esse nome]. Até que tudo mudou.

Parecia um vídeo institucional que usa uma linguagem lúdica pra propagar o lindo amor que as empresas capitalistas têm pelo meio ambiente. E acabou sendo um vídeo institucional mesmo. Porém, estou falando sobre as instituições sociais.

“Césio” fala com um humor tão autêntico sobre problemas sérios dos nossos hábitos, a cultura brasileira atual e a marginalização dela, e eu como um crítico seriíssimo só posso dizer “vá ver esse filme!”.

A relação entre o lúdico e a animação fazem com que a linguagem visual utilizada seja totalmente apropriada. Indo além da forma, pra falar sobre o conteúdo, o curta não levanta perguntas, mas dá respostas para a famosa frase “funk não é cultura”.

Além de ser, sim, cultura, o funk tem potência para ser uma ferramenta de consciência coletiva sustentável, por exemplo. E pode alcançar um público super vasto.

Eu não manjo nada de animação, mas toda vez que vejo uma tenho vontade de abraçar os realizadores só pela ousadia. E utilizar várias técnicas da animação, como contexto que vai além do estético, salienta a ousadia e apropriação da linguagem.

A obra não se propõe a discutir o espaço do funk na cultura brasileira, não em primeiro plano. O filme é sobre problemas ambientais. Mas o jeito como a mensagem é passada aborda a questão do diálogo entre as artes. Nesse caso, a música e o cinema, mas dá pra ir além com essa ideia. Quão enriquecedor é o diálogo entre linguagens?

Por fim: “Césio” não coloca o dedo numa ferida, ele faz coceguinha nela.

(Cauê Vinicius)

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