CISÃO

No limite do ininteligível

Talvez a gente só não goste de alguma coisa porque a gente não a entenda. Será?

Assisti a “Cisão”, exibido na Mostra Brasil 4, e senti que era um filme vazio. Um compilado onde a mesma ação se repete várias vezes. Até o áudio era mudo.

Depois que vi, e tive a inquieta sensação de incompreensão, fui pesquisar sobre cisão. “A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades.”

Então percebi que não é exatamente uma obra vazia, mas uma mensagem oculta. Não é entregue uma linha reta, mas pontos soltos exigindo que o espectador trace a reta. E jogar com o limite do ininteligível é muita audácia. Até o silêncio do filme vira provocação.

Produção cearense dirigida por Yuri Firmeza, “Cisão” age quase como um quadro abstracionista. Aparentemente, são só cores formas e ações, então o nome do quadro releva um novo significado, e a sensação que fica pinica o pensamento. Mas, no caso, a realidade não é subvertida; ao contrário, aqui ela é recortada. E colada na nossa cara, fazendo com que nós espectadores sejamos câmeras. Câmeras de segurança que simplesmente veem as coisas acontecerem. O que mais me incomoda nesse filme é que ele me pergunta: “e aí, o que cê vai fazer?”.

(Cauê Vinicius)

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