CRESPOS

Quase anárquico

Roteiro simplicíssimo, com um título bem evidente. Esse é “Crespos”, exibido no programa Oficinas Brasil e também no programa Juvenil, e que alcança seu objetivo de forma certeira. É uma pílula de autoestima, trazendo à tona uma pergunta, que nem faz sentido: “Se você acha cabelo crespo bonito, por que alisa o seu?”. A resposta a essa pergunta é pesada. Vêm racismo, machismo, feminismo branco, humanismo. Mas o filme não se propõe a trazer essas discussões e, sim, convida que quebrem os padrões. Quase que anárquico!

Dirigida por Paulo Igor Freitas e produzida no Distrito Federal, essa é uma obra que deixa claras as digitais de jovens realizadores (crianças, talvez?). O que consequentemente convida as pessoas a serem realizadoras também. Não no sentido de “se a gente conseguiu fazer, qualquer um pode”. Mas no sentido de “nós tentamos e olha onde estamos. Tenta você também”.

Não é inegável que existam falhas gritantes, como um problema no volume do áudio ou o foco, mas é visível a dedicação. Movimentos de câmera ousados. E até um detalhe na testa da protagonista tem uma sutileza berrante.

Não retrata só o racismo, mas também a forma como ele chega nas instituições sociais. E pior: o que nós estamos fazendo para contribuir ou não com isso? E as outras formas de preconceitos, como nós agimos sobre? “Crespos” é simples, mas traz uma complexidade: O processo de desconstrução é infinito e diário. Uma pequena ação pode ser uma trinca no padrão. E aos poucos esses valores infundados vão sendo fragmentados.

Talvez esse texto tenha ficado um pouco piegas, mas essa é uma obra tão fofinha, não tinha como ser diferente.

(Cauê Vinicius)

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