ÒRUN ÀIYÉ: A CRIAÇÃO DO MUNDO
Narrativa mágica de atmosfera lúdica
A memória é perpetuada por gerações, assim como o mito, as histórias de família, os contos antigos e de fadas. Exibido no programa Mulheres Negras – Mergulho Ancestral, a produção baiana “Òrun Àiyé: A Criação do Mundo” tangencia muito bem como a sobrevivência dos mitos, das origens e das histórias em geral ligadas, ou não, a fatos concretos, se estende ao longo da vida — e às vidas posteriores — justamente por explorar o lado mágico e atraente que sustentam.
Dirigido por Jamile Coelho e Cintia Maria e filme é um misto de animações gráficas e animação em stop motion, e narra a história do avô Bira, um babalorixá que conta para sua neta, a pequena Luna, a história mística da criação do mundo segundo o candomblé e suas vertentes. Os diálogos iniciais curtos dão conta das animações gráficas do curta-metragem, enquanto a digressão narrada por Bira mostra a criação do universo em stop motion, com figuras que representam Olodumaré e seus filhos orixás, Oduduwa e Oxalá.
A narrativa mágica apresenta cenários de atmosfera lúdica e visualmente deslumbrantes, calcando uma trama didática e infantil, e retirando da representatividade da memória acerca dos mitos africanos um filme com traços encantadores de contos de fadas.
Por mais que a trama não seja aprofundada ou complexa, sua sutileza apresenta um conjuntura eficaz com o didatismo apresentado. Podemos, inegavelmente, sentir falta de uma maior exploração dos cenários lúdicos, de um roteiro um pouco mais desenvolvido e de uma ligação melhor explanada sobre a relação de Bira e Luna, que perpetuam a criação do mundo segundo sua religião, para que esta sempre se mantenha viva.
Porém, a suavidade infantil e mágica do curta consegue ser encantadora, tornando sua ambiência em uma representatividade lúdica de um sonho. Assim como afirmou o escritor C. S. Lewis, “um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas”, “Òrun Àiyé” comprova que, na verdade, todos nós temos um grande apreço por essas narrativas mágicas, independente da idade.
(Gabriel Faustino)